terça-feira, 29 de setembro de 2009

AS DUAS FACES

AS DUAS FACES
(Clerisvaldo B. Chagas. 29.9.2009)

Anedotas contadas em roda de amigos, em festinhas, em mesas de bar, também trazem lições de vida. Muita gente conhece a história dos três comandantes militares que estavam reunidos. Um alemão, um russo e um brasileiro. O alemão, querendo dizer que o soldado da Alemanha era o mais disciplinado do mundo, partiu para a justificativa. Chamou o praça mais perto e disse: “soldado, morra pela pátria”. O militar prontamente pegou a arma, atirou na própria cabeça e caiu morto. O comandante russo encheu o peito de ar e falou que aquilo nada provava. Chamou um dos seus soldados e repetiu a frase do colega alemão: “soldado, morra pela pátria”. E o praça assim o fez. Pegou a arma, atirou na própria cabeça e caiu morto. O comandante brasileiro, ante os olhares interrogadores, procurou fazer a mesma coisa. Chamou o soldado mais próximo e disse: “soldado, morra pela pátria”. O soldado brasileiro riu, olhou bem para o superior e disse: “Já está bêbedo uma hora dessas, comandante!”
A disciplina cega pode se tornar fanática, como a parte alemã e a parte russa da anedota. Os casos de fanatismos acontecem muito na sociedade civil em todos os setores. É comum se ouvir falar na obediência sem limites, principalmente nas áreas religiosa e esportiva. Vejamos o exemplo de dona Mariana em O Paraíso, novela de uma rede de televisão. O fanático religioso não quer nem ouvir outras versões de fatos narrados e, não raras vezes, perde a razão como se tivesse submetido a uma lavagem cerebral. O pano preto que tem diante dos olhos não baixa nunca, sendo quase impossível a uma pessoa de bom senso conversar sobre o assunto com esses indivíduos. No esporte é mais frequente o fanatismo no futebol que é apontado como uma das grandes paixões brasileiras. Mas também a paixão irada acontece sobre qualquer assunto e quem a carrega jamais dá razão ao seu interlocutor.
No outro lado da pequena história divertida, está a opinião do soldado brasileiro. A situação não quer dizer sobre a indisciplina militar, mas sim do modo descontraído como o filho do Brasil encara todos os momentos. Não é o lado relaxado e moleque, mas um modo de pensar e desviar de perigos irreparáveis. A pessoa equilibrada nas suas idéias e nas suas práticas é pessoa confiável. A moderação supera a raiva, o ódio, a cobiça, a vingança... Levando o ser humano a um ponto que o torna admirado. Geralmente encontramos essa virtude em pessoas simples e em verdadeiros líderes caminhantes para o bem. Conhecemos vários professores que nos causaram essa sensação de equilíbrio e segurança em suas aulas. O homem sensato sabe guiar e possui a sensibilidade em lidar com outros seres que precisam luz. Quem não tem esse dom trazido pela própria natureza, poderá espelhar-se nas almas lúcidas e tentar o cultivo dessa planta sensitiva. Não é fácil, mas é possível. E mais complicado ainda é quando o ser é bastante apegado às coisas terrenas. Entretanto, todas as religiões dizem por uma boca só: você não está sozinho. Após as gargalhadas que vem com as anedotas, cabe refletir no que ficou de bom. Eis aí, meu amigo, o valor em analisar as DUAS FACES.

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