sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A RONDA DOS URUBUS

A RONDA DOS URUBUS

(Clerisvaldo B. Chagas. 4.9.2009)

Não temos orgulho nenhum sobre o ouro descoberto no Brasil colônia. No século XVIII, enorme foi à produção aurífera em terras brasileiras. Nem toda a América espanhola conseguiu produzir mais do que o Brasil. Entre os séculos XV e XVIII — estimam os estudiosos — esse metal amarelo extraído por aqui, chegou aos 50% do total produzido no mundo. Acontece que pouco, quase nada ficava em nosso território. O ouro descoberto, principalmente nas Minas Gerais, era rigorosamente fiscalizado e emitido para a Metrópole. Portugal poderia ter sido até uma potência mundial como era a Inglaterra, com o recolhimento do nosso ouro. Entretanto, atolado em dívidas, o país do rio Tejo, repassava sempre para a sua credora acima, única beneficiária real da nossa riqueza. Todos conhecem o caso do Tiradentes. Mesmo assim a intenção dos inconfidentes não era distribuir em obras os frutos do subsolo brasileiro. O governo português também tinha preocupações com as pedras preciosas aqui produzidas, sobretudo os diamantes. Muitos trabalhavam, nos rios, nos cascalhos, em busca das pedras, principalmente escravos trazidos da África. Todos ou quase todos roubavam diamantes. Os escravos, para a compra de comida e da liberdade, conseguiam burlar a vigilância com certa competência. Os padres contrabandeavam diamantes até em imagens ocas, fatos que deram origem à expressão: santo do pau oco. Preocupado com essas coisas, Portugal criou a famosa Intendência dos Diamantes. Esse novo órgão exercia as funções de fiscalizar as explorações e cobrar impostos, além de outras que puniam severamente os infratores. Com tanto rigor sobre as produções brasileiras de ouro e pedras preciosas, o Brasil ia perdendo riquezas e engordando a Inglaterra indiretamente. Mas ainda fica a indagação: se todo esse ouro tivesse ficado teria sido transformado em progresso?

Pulemos, então, dos séculos passados para o século XXI. Pré-sal. Novos recursos são descobertos no fundo da plataforma continental. Como se diz popularmente a água só corre para o mar, a extraordinária extensão petrolífera foi achada logo no Sudeste. A região mais rica do País, formada pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais (este sem litoral), “recebe muito mais água dos rios”. Diante dos quase infinitos benefícios anunciados pelo governo, o cheiro das futuras verbas atraiu as mais diferentes correntes políticas do Brasil. E se os do Sudeste querem fatia maior no bolo gigantesco, os do Nordeste organizam a resistência.

E como cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça, ficamos a imaginar se a frenética excitação dos políticos é de fato para beneficiar todos os brasileiros. Olhando direitinho, os espetáculos de Brasília continuam em cartaz no humorismo nacional. Quanto mais a carniça exala, mais atrai hienas, vermes e abutres. Até a águia americana já pousou na Colômbia. Enquanto isso, o bonzinho povo da terra vai espiando o céu azul anil e apenas se diverte com a RONDA DOS URUBUS.


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