O BERRO DA VACA
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.9.2009)
Na época em que a discriminação era maior, havia irônico comerciante no Bairro São Pedro, em Santana do Ipanema, Alagoas, conhecido por Seu Costa. Uma senhorita preta que puxava muito por um “s”, certa feita indagou no balcão do merceeiro:
— Seu Cosssta, tem passsta?
— Tem.
— Tem manga rosssa?
— Tem não, negra besta, tem bosssta, gosta?
Isso foi motivo de risos e anedotas na cidade por muito tempo, em torno dos anos 40 ou 50. Mas havia em Santana outro indivíduo que trabalhava em órgão do governo (Defesa Vegetal e/ou Animal) como veterinário prático. Costinha, humorista por natureza, era bastante solicitado e conhecido em toda região pelos seus serviços junto aos animais. Costinha, já em idade avançada, chegou a ser o bedel do Ginásio Santana, uma escola cenecista. Além do humor nativo, carregava uma criatividade incrível com respostas na hora tal repentista-violeiro. Contam-se dezenas sobre as presepadas de Costinha, tanto que tivemos vontade de escrever um livro sobre suas peripécias.
Durante o período de vacinação do gado, a fazenda Timbaúba — no fértil sopé da serra da Camonga — era uma festa. Certa vez, essa fazenda de meu pai recebia amigos e o veterinário prático Costinha, em dia de vacina. Muita comida, bastante bebida, brincadeiras a valer e a missão principal: vacinar mais de cem reses. Ainda no antigo sistema de laçar, os animais eram encostados ao mourão onde recebiam as agulhadas. Não faltavam em torno, gritos, piadas e assovios. Na vez do touro, foi preciso um sujeito forte chamado Chico (famoso por ter eliminado um adversário com um murro), para dominar o chefe do rebanho. Touro dominado, agulha em ação. Mas quando uma vaca também deu trabalho, o prático cismou e ficou longe. Alguém gritou aconselhando:
— Vai lá Costinha, que a vaca é mansa!
O prático e humorista Costinha respondeu rápido como um raio:
— Mansa era minha mãe e meu pai tinha “medo dela”.
E aguardou um pouco por melhores condições.
Falamos sobre prudência, que é o ato de se prevenir contra possíveis danos. Jesus, em suas pregações, já aconselhava a prudência como uma das várias virtudes existentes. Repetindo o Mestre o povo cita a sua maneira: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Mesmo assim o imprudente ainda age em todas as esferas. Fosse à cautela resguardada e o brasileiro excursionista não teria morrido de frio em terras africanas. Milhares de mortes e mutilações no trânsito também não estariam acontecendo. Acidentes do trabalho e os domésticos fazem parte de alarmantes estatísticas. É como o homem que ofende e não espera reação. A prudência ainda continua sendo uma das grandes virtudes desse mundo, mesmo para humoristas como Costinha, alertado pelos coices, resistência e o BERRO DA VACA.
Caro Clerisvaldo Braga Chagas tudo que fala de poesia me enche os olhos e o coração.
ResponderExcluirLi partes de trabalhos seus e achei muito interessante. Parabens pelo talento que Deus lhe deu.