CACHAÇA NO QUENGO
(Clerisvaldo B. Chagas. 16.10.2009)
Para os professores apologistas do folclore nordestino: Valter Alves, Fábio Campos mais João de Oniel e Cecéu.
Entre os folguedos do estado alagoano, avulta-se o Guerreiro. Dependendo de inúmeras coisas, cada grupo pode variar entre 25 e 64 figurantes. O Guerreiro, com roupas vermelhas e azuis entre fitas coloridas, chapéus e espelhos, comemora o nascimento do Cristo, daí o surgimento quase sempre em época natalina. Alguns pesquisadores atribuem à origem do Guerreiro, vinda de uma dissidência do Reisado, sendo mais leve e ocupando menos pessoas. Esse folguedo teria aparecido entre as décadas de 20 e 30 do século passado. Chamam a atenção no Guerreiro, o colorido das suas vestes, as belas mocinhas que são chamadas “figuras”, o ritmo agradável, os improvisos do Mestre, também chamados de “embaixadas” e as brincadeiras dos Mateus. De qualquer forma, não cabem neste trabalho os detalhes sobre esse maravilhoso folguedo. Queremos chamar atenção apenas para a beleza dos versos de mestres talentosos. Muitos poetas célebres de Reisados e Guerreiros ainda continuam imortais em Alagoas. Algumas estrofes tornaram-se clássicas alagoanas como as seguintes:
“Ô minha gente...
Dinheiro só de papé
Carinho só de mulé
Capitá só Maceió...”
“Se eu me casar
Com mulé feia demais
O diabo é quem não faz
Todo dia ela chorar...”
Lembro da Expedita, mulherona branca e formosa chegada ao Guerreiro; era empregada na casa de meu pai. (Por onde andará a Expedita?). Gostava de cantar para mim no balançar da rede (inclusive, a estrofe abaixo foi parar em um dos meus romances):
“O avião subiu
Se alevantou
No ar
se peneirou
Pegou fogo e levou fim...”
Pois bem, deixando tantos versos bonitos de lado, resolvemos contar um caso de Guerreiro que se passou na zona rural de Penedo, segundo o subtenente Eurípedes (In memoriam). Convidado para brincar no aniversário de um fazendeiro, o grupo folclórico apresentou-se e começou a dançar até a meia-noite. O mestre era bom, tirava versos a valer e, as figuras faziam sucesso absoluto. Mas acontece que ninguém é de ferro e o mestre do guerreiro já começava a enrolar a língua pela força da “marvada”. Foi aí que alguém interferiu, dizendo ao mestre que ele já havia falado em tudo menos elogiado o dono da casa e a sua senhora. O mestre, surpreendido, arregalou os olhos e perguntou o nome do fazendeiro: “Seu Artur”. E o da dona da casa: “Dona Enedina”. E o nome da fazenda: “fazenda Urucu”. O mestre não se fez de rogado e bem que tentou uma quadrinha, mas se engrolou todo no nome da fazenda de rima parecida:
“Ô Seu Artur...
Ô dona Enedina...
Ô peça fina
Na fazenda deram o c...
Depois de a capangada quebrar tudo no cacete, dizem que o mestre do guerreiro ainda hoje corre. Alguém perguntou o que era aquilo. Outro respondeu cuspindo longe: CACHAÇA NO QUENGO!
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