O COTIDIANO DA REALIDADE
(Clerisvaldo B. Chagas. 26. 10. 2009)
Vamos acabando de chegar do Shopping por volta das 22 horas. A vizinha está na calçada em grande expectativa. Parece excitada com os últimos acontecimentos de rotina da rua. Diz simplesmente ao passarmos: “Estou aguardando a conclusão dos fatos”. Perguntamos surpresos que fatos são esses. E a gordinha explica que acabaram de matar um ladrão ali perto da praça. Mas não é possível? Esse Maceió está quase igual ao Rio de Janeiro. Já ontem mataram dois no bairro da Levada. Mas a vizinha insiste em contar a história novidade. Um ladrão havia roubado uma bicicleta, os populares não quiseram aguardar a polícia e fizeram justiça com as próprias mãos. O gatuno está sem vida lá na praça para quem quiser ver. Mas a gordinha ainda diz que chegou a segunda notícia: O roubo não teria sido de uma bicicleta, mas sim de apenas uma torneira. Para que o ladrão queria uma torneira? Ora, um objeto assim é muito útil em casa. Mas talvez tenha sido para vender e comprar drogas com o dinheiro. Hoje se rouba as coisas mais incríveis como sombrinhas, tênis, litros, latas velhas... Tudo serve para adquirir algumas pedras ou uma trouxinha de maconha. Antes de deixarmos à vizinha, ela (nem sei como) tem novas informações: a polícia acaba de chegar ao local. Nós vamos embora e, a gordinha ─ ligada à crônica policial e à rotina do bairro ─ continua à porta farejando a continuação das coisas.
E os rotineiros casos de Maceió continuam enchendo as páginas dos jornais, carbonos dos dias anteriores. É a mulher da garganta possante que passa gritando “feijão verde!” É o aguadeiro com a propaganda da água ou o insistente carrinho de DVDs piratas. Lá na grota mataram mais um. Terrível batida na Fernandes Lima. Nova greve estoura em Alagoas... E assim, sob o forte calor dos trópicos, a capital alagoana vai vivendo entre as obras do comércio e o trânsito doido que engarrafa sempre. A praça grande, outrora tão bonita, agora é dos sem-terras e de outros sem. Vez em quando uma notícia alvissareira que já nasce desconfiada. E aos domingos, praias poluídas, movimento intenso na orla distante e um comércio vazio, esquisito e assustador de tão deserto. Não, ninguém estar falando de pessimismo. Apenas sobre a rotina de uma capital com inúmeros aspectos de interior.
E’ a crônica que conta a história diária de um povo, principalmente no seu aspecto mais simples. Pinturas das ruas; quadros das praças; a “verdade” dos doutores; as “mentiras” das notícias. Muitas vezes ela é insípida como em várias ocasiões falta o sal a própria existência. E se em todas as páginas, sempre aparecem fatos novos, talvez sejam iguais aos que a vizinha tanto aguarda para quebrar O COTIDIANO DA REALIDADE.
(Clerisvaldo B. Chagas. 26. 10. 2009)
Vamos acabando de chegar do Shopping por volta das 22 horas. A vizinha está na calçada em grande expectativa. Parece excitada com os últimos acontecimentos de rotina da rua. Diz simplesmente ao passarmos: “Estou aguardando a conclusão dos fatos”. Perguntamos surpresos que fatos são esses. E a gordinha explica que acabaram de matar um ladrão ali perto da praça. Mas não é possível? Esse Maceió está quase igual ao Rio de Janeiro. Já ontem mataram dois no bairro da Levada. Mas a vizinha insiste em contar a história novidade. Um ladrão havia roubado uma bicicleta, os populares não quiseram aguardar a polícia e fizeram justiça com as próprias mãos. O gatuno está sem vida lá na praça para quem quiser ver. Mas a gordinha ainda diz que chegou a segunda notícia: O roubo não teria sido de uma bicicleta, mas sim de apenas uma torneira. Para que o ladrão queria uma torneira? Ora, um objeto assim é muito útil em casa. Mas talvez tenha sido para vender e comprar drogas com o dinheiro. Hoje se rouba as coisas mais incríveis como sombrinhas, tênis, litros, latas velhas... Tudo serve para adquirir algumas pedras ou uma trouxinha de maconha. Antes de deixarmos à vizinha, ela (nem sei como) tem novas informações: a polícia acaba de chegar ao local. Nós vamos embora e, a gordinha ─ ligada à crônica policial e à rotina do bairro ─ continua à porta farejando a continuação das coisas.
E os rotineiros casos de Maceió continuam enchendo as páginas dos jornais, carbonos dos dias anteriores. É a mulher da garganta possante que passa gritando “feijão verde!” É o aguadeiro com a propaganda da água ou o insistente carrinho de DVDs piratas. Lá na grota mataram mais um. Terrível batida na Fernandes Lima. Nova greve estoura em Alagoas... E assim, sob o forte calor dos trópicos, a capital alagoana vai vivendo entre as obras do comércio e o trânsito doido que engarrafa sempre. A praça grande, outrora tão bonita, agora é dos sem-terras e de outros sem. Vez em quando uma notícia alvissareira que já nasce desconfiada. E aos domingos, praias poluídas, movimento intenso na orla distante e um comércio vazio, esquisito e assustador de tão deserto. Não, ninguém estar falando de pessimismo. Apenas sobre a rotina de uma capital com inúmeros aspectos de interior.
E’ a crônica que conta a história diária de um povo, principalmente no seu aspecto mais simples. Pinturas das ruas; quadros das praças; a “verdade” dos doutores; as “mentiras” das notícias. Muitas vezes ela é insípida como em várias ocasiões falta o sal a própria existência. E se em todas as páginas, sempre aparecem fatos novos, talvez sejam iguais aos que a vizinha tanto aguarda para quebrar O COTIDIANO DA REALIDADE.
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