A CUECA DO ENEM
(Clerisvaldo B. Chagas. 9.10.2009)
Querendo discutir o que é uma cueca, de onde veio ou quem a fez, gastaríamos uma noite inteira antes que encerrássemos a discussão. Para alguns, o homem das cavernas que viveu há sete mil anos, já usava uma espécie de toga que poderia ter sido a precursora da cueca. Para outros, esse pedaço de pano teria surgido no século XII, quando os guerreiros usavam um tipo de tecido por causa dos arranhões das armaduras. Segundo mostram os filmes, os egípcios usavam um tecido fino de fibra vegetal que seriam as primeiras manifestações das atuais cuecas. Quando assistimos aos filmes romanos antigos, notamos panos por baixo dos saiotes dos soldados e, mesmo nas películas sobre a Palestina, vimos aquelas tiras de panos em forma de “X”, como a que representa o Cristo Crucificado.
Naturalmente a cueca, assim com a calcinha e o sutiã, foi tornando-se peça cada vez mais sofisticada, de tecido, de lona, de algodão de sede, de quase nada. Tem gente que nem usa essas coisas por achar objetos inúteis. Quando reclamamos certa feita de que Fulano estava com a calça rasgada atrás, ele nem se abalou. Indagou apenas: Para que é que eu uso cueca? Uns usam-nas por necessidade, outros para ficarem sex. E outro ainda não usa cueca para não gastar dinheiro; porque incomoda; porque fica no osso como cavalo de índio.
O certo, porém, é que a cueca, de uma maneira ou de outra, sempre serviu para alguma coisa. Depois de ter enfrentado esse tempo todo da história, surge agora como peça chave utilitária da corrupção. Sim, meus amigos, após cobrir as genitálias, a pequena peça entra na sofisticada “máfia” do Senado e do Enem. Não sabemos ainda se os dólares encontrados na cueca — pelo cheiro característico por onde passou — passaram a valer mais ou menos, no comércio interno e externo. As notas do Enem, também não sabem, até porque a tramóia foi descoberta a tempo. Caso o aluno soubesse que tinha sido reprovado poderia questionar: mas o cheiro ativo do lugar por onde passou a prova não me deixou respirar. Como poderia ter tirado nota melhor? E assim, ficando na memória dos povos como simples peça de pano, a cueca se especializa na criatividade brasileira que vai exportando para o mundo outras prestações de serviços. Antigamente as mulheres jogavam as coisas mais leves no sutiã, como bilhetes e dinheiro. Agora os homens vencem com dólares, cadernos do Enem e celulares para presídios. Está faltando muito pouco para que a cueca seja decretada peça fundamental da república brasileira. Por outro lado, aproveitando o prestígio e a organização, talvez o MST também saia às ruas defendendo a cueca como peça chave nacional. Cuecas verdes, amarelas, azuis, desbotadas, fubentas, fuleiras, esculhambadas, continuando assim, poderão formar até o símbolo das olimpíadas 2016. Quem diria! Pano saído das cozinhas nordestinas para as sofisticações do Enem, do Senado...
“Eu mato, eu mato
Quem roubou minha cueca
pra fazer pano de prato...”
Cruz Credo! Cabia um caderno NA CUECA DO ENEM!
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