PEÇAS DE MUSEU
(Clerisvaldo B. Chagas. 11.2.2010)
Alcançamos o museu de Santana do Ipanema, funcionando à Avenida Nossa Senhora de Fátima. Não temos a certeza se esse foi o seu primeiro endereço. Pertinho do museu atuava o Tribunal do Júri no prédio da Câmara de Vereadores. O prédio da Câmara continua o mesmo, apenas reformado. Antes de se transformar em casa legislativa, nesse prédio funcionou a empresa de força e luz, fundada em 1922, quando Santana passava à cidade. Também não nos recordamos se o museu tinha nome de algum homenageado. O que sabemos é que, apesar de estreito e pequeno para abrigar a história e a arte do Município, havia peças importantes que não podiam ser desviadas sob hipótese alguma. Foi ali que pela primeira vez entramos em um museu. A nossa visita não nos causou nem alegria nem tristeza, porém, logo veio à mente uma interrogação. Estava ali uma das rodas do automóvel de um dos dois maiores empresários brasileiros: Delmiro Cruz Gouveia. O carro de Delmiro foi o primeiro de Alagoas e, nessa época, nem o governador possuía automóvel. (Delmiro é motivo de recordação constante do personagem principal do nosso romance inédito “Fazenda Lajeado”). A interrogação de rapazote era por que não estavam ali as outras rodas? Nesta vimos o aro e o pneu de borracha. Tempos depois retornamos ao museu e só encontramos o pneu retorcido. O aro havia sumido e ninguém dava notícias. Soube depois que haviam levado para Palmeira. Com ordem de quem? O povo, dono do patrimônio, foi consultado? E assim, o museu fundado pelo prefeito Hélio Cabral de Vasconcelos, foi pouco a pouco sendo dilapidado até ficar no “osso”. As pessoas cultas começaram a recusar fazer doações para que suas peças históricas não fossem parar em fontes desconhecidas. O museu de Santana chegou ao ridículo de ser gozado por pessoa inescrupulosa que fazia parte do governo Genival Tenório. Depois, em alguns outros governos municipais, o museu de Santana passou a ser lugar de castigo para funcionários que não rezavam na cartilha de alguns deles. Onde estão as outras peças importantes do museu?
O primeiro arado da região e que fez uma revolta na agricultura, está desprezado e se acabando a céu aberto. Ninguém fala, ninguém grita, ninguém protesta. Nenhuma apuração tivemos notícia sobre desaparecimento e descaso com o museu desde várias gestões sucessivas. Enquanto cidade pertinho de nós, possui três museus, nós vamos capengando com o que restou. Bem assim foram livros e mais livros de autores santanenses ou outras obras de relevo que desapareciam da Biblioteca Pública, também fundada pelo mesmo prefeito do museu. Cidade seu museu, sem biblioteca e sem monumentos, é cidade zumbi de conteúdo zero. De maneira alguma queremos remoer o passado, mas apenas alertar para a importância do patrimônio cultural do povo. É uma parcela mínima da população que compreende, louva e defende abertamente a cultura. Mas que pelo menos fosse respeitado o desejo dessa minoria. Com a indiferença absoluta dos munícipes, todos nós também vamos virando PEÇAS DE MUSEU.
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