VAI TIRAR LEITE?
(Clerisvaldo B. Chagas. 9.2.20100)
Com nomes de hotel, hospedaria ou pousada, os locais de acolhimento aos viajantes são bastante antigos. Basta lembrar como exemplo, a peregrinação de José e Maria à cidade de Belém. O casal procurava por uma hospedaria e as que encontravam não tinham vaga. Isto quer dizer que, mesmo numa cidade tão pequena, havia mais de uma casa de hospedagem.
No interior de Alagoas, como em todo o Brasil, a história de hotéis e similares não ficaram registradas especificamente. As fontes sobre o assunto são os mais velhos que quando morrem levam grande parte do conhecimento. Mesmo assim os mais velhos são fontes confiáveis porque não poucos foram testemunhas vivas e cheias de detalhes dos temas pesquisados.
Pelo menos nos tempos de vila em Santana do Ipanema, deve ter havido várias hospedarias. A mais antiga que conhecemos vem da década de 50 e trata-se do “Hotel Central” que funcionava à Avenida Barão do Rio Branco; defronte o final da Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha. Sua fachada e estrutura faziam parte do casario tradicional de vila que iam desde o atual Museu Darras Noya à foz do riacho Camoxinga. O estilo da época trazia figuras e linhas geométricas em alto-relevo, significando prestígio de seus proprietários. As casas residenciais do quadro comercial santanense, como as da Avenida Barão do Rio Branco, também eram estreitas na frente, pegadas umas às outras e compridas até os fundos que terminavam nos cercados do Padre Bulhões. Daí a casa de morada ser adaptada como hotel. A dona do hotel era conhecida como “Maria Sabão”. Depois o “Hotel Central” subiu mais, indo para o 1º andar do casarão ao lado esquerdo da Matriz de Senhora Santana. Ali funcionou até a sua extinção. O “Hotel Central” era o preferido dos caixeiros-viajantes que faziam à praça de Santana. Herdando o nome “Sabão”, surgiu “Paulo Sabão” – bancário e ótimo professor de Matemática – e “Carlos Sabão”, comerciante da cidade. Acusamos a existência paralela de uma hospedaria (também chamada pensão) nas imediações da Rua Ministro José Américo, da proprietária Rosa. Sobre ela, um viajante presepeiro costumava cantarolar:
“Como é que pode
Seu Mané
Como é que pode
Na pensão de dona Rosa
Só tem bode
Só tem bode...”
Conhecemos também o “Hotel Santanense” que funcionava à antiga Praça da Bandeira, na esquina, quase defronte a igrejinha de Nossa Senhora Assunção. Era pertencente à Dona Beatriz, pessoa respeitável do Bairro Monumento. Depois mudou a direção, tomando conta a senhora Elsa, gaúcha casada com gente da terra. Fechou. Na entrada de Santana, de quem vem de Maceió, foi instalado o mais recente dos três, o “Hotel Avenida”. Era proprietário o senhor Leusínger.
Hotel é uma coisa abençoada por acolher o estrangeiro. Por isso deve ser admirado e respeitado como extensão da própria casa. E para encerrar sobre o assunto em Santana, contemos um dos muitos casos engraçados entre o hospedeiro Leusíger e os seus hóspedes. No sertão a ordenha é realizada entre quatro e cinco horas da manhã. Desconfiado de que um dos seus hóspedes planejava deixar o hotel sem pagar, Leusínger ficou em alerta. Às quatro da madrugada, o sujeito tentava escapulir através da janela. Qual não foi a surpresa ao pegar a mala! Seu Leusínger chegou de mansinho e indagou: “Bom dia, meu prezado, VAI TIRAR LEITE?
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