REPENTISTA
E ABOIADOR
Clerisvaldo B.
Chagas, 11 de dezembro de 2012.
Crônica
Nº 926
Clerisvaldo e Zé de Almeida cantam para os velhinhos na Matriz de Senhora Santa Ana. |
Esta semana encontrei o poeta Zé de Almeida, famoso em
todo o Nordeste. O repentista veio da escola poética de Rafael Paraibano da
Costa, também santanense que aperfeiçoou a carreira de Almeida, logo cedo, pois
eram amigos de verdade. Quando Zé de Almeida pegou fama que estava assombrando
os grandes da Paraíba e Pernambuco, comecei também a mexer nesse vespeiro. Em
pleno auge da sua carreira de repentista-violeiro, Almeida deve ter pesado uma
porção de coisas e terminou abandonando as cantorias pelos aboios de vaquejadas
em discos, acompanhando Vavá Machado, um mito no estilo. Versos imorredouros
ficaram acenando, como lenços de seda, a despedida do rapaz das cantigas de pé
de parede. Certa feita, já mostrado aqui, Almeida, convidado para uma noitada
em Paulo Afonso enfrentou duas feras consagradas: Jó Patriota e Manoel de Filó,
que procuravam experimentar o rapazinho que criava fama. Ao terminar a baionada
com um, o outro se sentou para também medir forças com o santanense. Almeida
saiu-se com essa estrofe de placa:
“Já cantei com Patriota
Vem Manoel de Filó
Um é cobra canina
Outro cobra de cipó
Eu no “mei” me defendendo
Com um taco de mororó”.
Outra vez, no Bar da Pitú, centro de Santana do
Ipanema, ao passar o locutor Humberto Guerrera, da Rádio Correio do Sertão, Almeida
que bebia um refrigerante parou e disse:
“Lá vai Humberto Guerrera
Locutor amigo meu
Até já perdeu as contas
Das cachaças que bebeu
Tá vivo daqui pra cima
Pra baixo a pitú comeu”.
.
O Nordeste foi quem perdeu os improvisos animados e
quentes de Almeida, para ouvir os balanços de vaquejadas, aboios e forrós
misturados que vão se tornando sarapatéis das feiras mais famosas. O poeta ainda
mora em Santana do Ipanema, no Bairro Camoxinga, e é visto com muita satisfação
pelos amigos, passeando e vendendo sua arte numa indefectível pasta negra, usando
chapéu de couro pernambucano. Certo, ele. O artista deve ir onde o povo está. Honra
para Santana, cujo trabalho elevou o nome da cidade na voz inconfundível do
REPENTISTA E ABOIADOR.
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