terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O ANO NOVO



O ANO NOVO
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de dezembro de 2012.
Crônica Nº 936

Imagem: Wikipédia
Eita, meu amigo velho, como foi o seu Natal? Espero que tenha sido no mínimo, reconfortante junto aos familiares. Aqui neste Sertão de guerra, cada um fez como podia, diante de uma temperatura supimpa e do Sol desencorajador. Funcionário público municipal sem o décimo no bolso, água faltando nas torneiras, céu limpo e risonho e dinheiro alheio circulando no comércio. Os gritos insistentes das propagandas continuam como nos tempos medievais. Carros de som extrapolam os decibéis, ocupam todos os espaços das ruas, tentando futucar nos bolsos de quem já recebeu as notas. Entra e sai nas lojas, pacotes pendurados, engarrafamento no trânsito, falta de estacionamento e nenhum guarda à vista, fazem da cidade uma nova Índia. Casas lotéricas formam filas extravagantes, acenando com riqueza ilusória. No bar da esquina o sujeito emborca uma, duas, três... A saideira. As igrejas estão abertas para uma passagem rápida e leve esperança. Papéis bolam na rua indicando endereços para dinheiro fácil. Perto do mercado um homem bigodudo promete arrancar a cabeça do motoboy, de um murro só. E um burburinho de gente zoa como abelhas tontas em torno do enxu.
Durante a noite dessa véspera natalina, os retardatários ainda estão palmilhando os mercados em procura de carne, bebidas e outros produtos que escasseiam nas prateleiras. Muitos se recolhem a casa, em preparo para a ceia importada, nacional ou particularmente sertaneja, de acordo com as posses, tentando um conforto espiritual na reunião familiar. Outros vestem as melhores roupas e vão ao desfile pelos restaurantes de luxo. Lá fora o movimento dos bairros mais distantes vai rareando deixando as avenidas sem ninguém. Afinal, a noite é mesmo dedicada à família.
No amanhecer, com o Sol torrando tudo logo cedo, as ruas estão numa ressaca grande, sem um pé de pessoa para fazer rastro. Até as árvores estão preguiçosas e não querem executar balanço algum. Urubus rondam no voo rasteiro sob o mata crestada da periferia e, os pardais em bandos, procuram mais tristes as malocas dos telhados. Os garis não passam; o vendedor de leite não vem; uma tristeza quente invade o tempo de final de dezembro. Papai Noel? Não sei. O menino Jesus passou ontem à noite, papai Noel não sei onde ficou.
E se você perdeu a oportunidade de ser feliz durante o Natal, tenha calma e fé. Ainda resta O ANO NOVO.


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