domingo, 9 de dezembro de 2012

O CHAPÉU DE CORISCO



O CHAPÉU DE CORISCO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2012.
Crônica Nº 925

Como muitos pesquisadores do cangaço andam a procura de detalhes, vamos adiantando um caso que talvez interesse. Aliás, quando Dadá esteve em Santana do Ipanema, após o cangaço, fez algumas visitas na cidade. Lembro-me que ela esteve na Rua Antônio Tavares, precisamente numa residência defronte a casa de meus pais. A casa pertencia ao senhor Sabino Pereira, pai do conhecido ex-padre Alberto Pereira e que foi o primeiro pároco da Paróquia de São Cristóvão, com sede no Bairro Camoxinga. Naquela ocasião, a vizinhança comentava a visita, mas não tenho certeza se outras pessoas foram como intrusas conhecer a cangaceira Dadá. Da minha casa mesmo, lá não foi ninguém, até porque meus pais eram avessos a essas coisas de valentia. Mas Dadá havia criado fama não apenas por ser uma bandoleira, mas também pelos comentários de coragem e determinação. Em suma, era citada como uma pessoa má e, isso não me despertou, como rapazinho, nenhum interesse em subir os degraus da calçada alta do fazendeiro Sabino Pereira.
No livro publicado por João Bezerra, “Como dei cabo de Lampião”, vamos encontrar um resumo dos combates daquele tenente e sua volante, com os cangaceiros. Entre eles, está o oitavo tiroteio que foi realizado próximo à fazenda São Luiz, contra Corisco, pelo pé da serra da Cachoeira. O livro não fala exatamente em que estado. “Corisco havia deixado o chapéu, onde havia dois contos em moedas, nas correias. Foram feridos: Corisco, nas pernas, Dadá e Jitirana”.
Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, disse que em um desses dias de visita, entrou na residência onde eles estavam, repentinamente, o soldado Leôncio Siqueira e entregou o chapéu de Corisco a Dadá, falando sobre o tiroteio. Dadá simplesmente disse que aquele não era o chapéu de Corisco, podia levá-lo de volta. Falou até que podia ter sido de outros cangaceiros, citando nomes de dois deles e pronto. Desapontado, o então, hoje, sargento Leôncio foi embora levando o chapéu. Quando ele saiu, Dadá virou-se para Silvio e disse: “A ele eu jamais iria admitir que aquele chapéu fosse de Corisco. Mas a você eu falo a verdade: era sim, o chapéu de seu pai”.
(Lampião em Alagoas - inédito).
Numa recente reunião “cultural” ocorrida em Santana, ao perguntarem por que eu não estava ali (não havia sido convidado) o chefinho articulista e manhoso respondeu igualzinho a Dadá com o soldado Leôncio e o CHAPÉU DE CORISCO. 

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