O CHAPÉU
DE CORISCO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de
2012.
Crônica Nº 925
Como muitos pesquisadores do cangaço andam a procura de
detalhes, vamos adiantando um caso que talvez interesse. Aliás, quando Dadá
esteve em Santana do Ipanema, após o cangaço, fez algumas visitas na cidade. Lembro-me
que ela esteve na Rua Antônio Tavares, precisamente numa residência defronte a
casa de meus pais. A casa pertencia ao senhor Sabino Pereira, pai do conhecido
ex-padre Alberto Pereira e que foi o primeiro pároco da Paróquia de São
Cristóvão, com sede no Bairro Camoxinga. Naquela ocasião, a vizinhança
comentava a visita, mas não tenho certeza se outras pessoas foram como intrusas
conhecer a cangaceira Dadá. Da minha casa mesmo, lá não foi ninguém, até porque
meus pais eram avessos a essas coisas de valentia. Mas Dadá havia criado fama
não apenas por ser uma bandoleira, mas também pelos comentários de coragem e
determinação. Em suma, era citada como uma pessoa má e, isso não me despertou,
como rapazinho, nenhum interesse em subir os degraus da calçada alta do
fazendeiro Sabino Pereira.
No livro publicado por João Bezerra, “Como dei cabo de Lampião”, vamos
encontrar um resumo dos combates daquele tenente e sua volante, com os
cangaceiros. Entre eles, está o oitavo tiroteio que foi realizado próximo à fazenda
São Luiz, contra Corisco, pelo pé da serra da Cachoeira. O livro não fala exatamente
em que estado. “Corisco havia deixado o
chapéu, onde havia dois contos em moedas, nas correias. Foram feridos: Corisco,
nas pernas, Dadá e Jitirana”.
Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, disse que em um
desses dias de visita, entrou na residência onde eles estavam, repentinamente,
o soldado Leôncio Siqueira e entregou o chapéu de Corisco a Dadá, falando sobre
o tiroteio. Dadá simplesmente disse que aquele não era o chapéu de Corisco,
podia levá-lo de volta. Falou até que podia ter sido de outros cangaceiros,
citando nomes de dois deles e pronto. Desapontado, o então, hoje, sargento
Leôncio foi embora levando o chapéu. Quando ele saiu, Dadá virou-se para Silvio
e disse: “A ele eu jamais iria admitir
que aquele chapéu fosse de Corisco. Mas a você eu falo a verdade: era sim, o
chapéu de seu pai”.
(Lampião em Alagoas - inédito).
Numa recente reunião “cultural” ocorrida em Santana, ao
perguntarem por que eu não estava ali (não havia sido convidado) o chefinho
articulista e manhoso respondeu igualzinho a Dadá com o soldado Leôncio e o
CHAPÉU DE CORISCO.
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