MISTÉRIO
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de maio de 2013.
Crônica Nº 1017
(Para o escritor Marcello Fausto)
|
Igrejinha de São Gonçalo. Foto (panoramio.com). |
Sempre encontrei aquela
igrejinha fechada. Apesar das visitas constantes dos turistas, à pracinha ao
lado, as portas da capela continuavam cerradas. O verde desbotado da madeira
parecia ordenar fazer vista grossa para o mirante amigo do mar azul. O enorme e
imponente edifício, separado apenas por um salto de rua, funciona como gigante
rico, vizinho à simplicidade cristã.
Quem fundou essa igrejinha, hoje cercada pelo moderno que evoluiu? Como
um cordeiro deitado na vastidão da planura, a capela quebrou o sono e então
pude ver suas portas abertas. Apressei os passos. Por fora não havia informação
alguma. Ninguém para me dizer sobre o santo protetor. Contive o ímpeto de adentrar
ligeiro, receoso em que as portas fechassem de repente. Deparei-me com belíssima
solenidade quando cerca de oito senhoras de idade avançada, oravam educadamente. Sob o comando da mais idosa, no altar, as
outras respondiam ao diálogo formal e cantavam em baixa voz. Benzi-me. Notei a
limpeza, santos nos recôncavos, estações de via-sacra, mas nenhum indicativo de
identidade. Interromper o ato religioso para saber qual era o santo principal seria
estupidez. Recuei para a calçada. Duas
senhoras passavam pelo local e ouviram minha interrogação. Disseram com alegria
que “aquela era a igrejinha de São
Gonçalo”. Voltei-me satisfeito para a entrada. Dois minutos após, alguém
tocou nos meus ombros. Era outra senhora que ia passando e me fez a mesma pergunta.
“Acabei de saber que é a igrejinha de São
Gonçalo”, respondi com a mesma alegria das mulheres que me informaram. A
senhora também saiu rindo, cheia de satisfação. Achei muito interessantes.
Todos nós ficamos felizes informando e sendo informados.
Lembrei-me que São Gonçalo era
o patrono dos violeiros, ao chegarem dois versos de música sertaneja:
“Ó meu
seu Gonçalo
Rei dos
violeiros...”
Saí impressionado da
Praça Rosalvo, construída em 1940. A humildade e a força hercúlea da igrejinha
acompanharam-me Maceió afora. Quanto segredo no modo de viver dos homens! Quanta
proteção e sabedoria do Soberano aos seus colossos que se fazem pequeno!
Escrevi, capela de São Gonçalo, o que você mandou. MISTÉRIO.
Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2013/05/misterio.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário