ESCRITORES E GAZETA
DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (II)
(Série
de 5 crônicas)
Clerisvaldo B.
Chagas, 25 de março de 2014
Crônica Nº 1157
ERMIDA NO LEITO DO RIO IPANEMA E SUA HISTÓRIA COLOSSAL. Foto: Clerisvaldo. |
Milagre na Capelinha
Em 1941, o rio
Ipanema chegou com a maior cheia que se tem notícia em Alagoas.
Nos areais e
pedregulhos do seu leito, no povoado Capelinha, município de Major Isidoro, o
Panema trouxe longo choro. Uma família que habitava na margem direita, cuja residência
ainda existe, foi lavar roupa no rio. As águas, porém, levaram uma criancinha
de três anos de idade. A procura e o desadoro durou três dias pela região. No final
dos três dias, um pastor de ovelhas ouviu um choro e encontrou a criança na
crista de uma pedra, defronte a casa dos pais, porém na margem oposta.
Imaginemos a alegria daquela pobre família. O garoto, chamado Antônio, não
tinha um só arranhão! Indagado ele contou que uma mulher o agasalhara e o alimentara,
colocando-o debaixo de uma pedra. Os pais e outras pessoas, devido ao sobrenatural
acontecimento, mostraram ao garoto várias fotos e imagens de mulher para ver se
ele identificava alguma. Antônio não vacilou e apontou para a imagem de Nossa Senhora
de Lourdes. O povo, em agradecimento à santa, construiu uma igrejinha na pedra
onde o menino fora encontrado. Ainda hoje a igrejinha é lugar de promessa, romaria
e meditação.
Contam ainda que
muito tempo depois, adulto e morando na região de Craíbas, Antônio viera
visitar a igrejinha com outras pessoas. Chegando à porta da ermida, teria exclamado
para todos: “Ela está aqui! A mulher que me salvou está aqui!”. Claro, todos
correram para aquele ponto e nada viram. Entretanto, Antônio, que parecia ouvir
alguém, virou-se para todos e falou o que ela lhe dissera naquele momento: “Eu o
salvei não foi para você se tornar ruim do jeito que é”. A população conta que
Antônio voltou para a região de Craíbas, por certo muito desgostoso, pois jogava,
fumava e praticava outras coisas. Afirmam que ele ainda é vivo e deve contar com 76 anos de idade.
Ipanema
O povoado Capelinha é
centro da Bacia Leiteira. Cria gado ovino e bovino selecionados, sendo também a terra de
grandes fazendeiros e vibrantes vaquejadas. Ali perto, o rio Ipanema recebe o
riacho Dois Riachos que vem de Pernambuco, banha a cidade do mesmo nome, em
Alagoas, e se torna o mais importante afluente do Panema
DIVA, PESQUISADORA DA REGIÃO, FOTOGRAFA O RIO. Foto: Clerisvaldo. |
Infelizmente o povo
ainda precisa muito das suas águas de cacimba na estiagem e, a extração de
areia do seu leito, está prejudicando o povoado. Foi criada em Capelinha a
organização Guardiões da Mata que age como os Guardiões do Rio Ipanema –
AGRIPA, em Santana.
A professora Diva
Correia de Morais, é avó, pesquisadora, cordelista e está à frente dos
guardiões. Foi ela quem narrou a história acima e, sua luta pela preservação da
natureza na região é árdua, insistente e quase solitária.
O rio Ipanema banha praticamente toda a Bacia Leiteira, tornando a região rica e agrestada. Lá mais a leste, o rio Traipu, faz parte dessa força que impulsiona a agropecuária sertaneja, fazendo trio com o rio Capiá, no alto sertão, formando assim a trinca mais importante dos caudais sertanejos.
Amanhã desceremos mais o rio até o sítio Telha e o povoado Barra do Panema.
* Clicando sobre elas ampliam-se as fotos em toda plenitude.
Amanhã desceremos mais o rio até o sítio Telha e o povoado Barra do Panema.
* Clicando sobre elas ampliam-se as fotos em toda plenitude.
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