quinta-feira, 27 de março de 2014

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (V)



ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (V)
(Série de 5 crônicas)
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2014
Crônica Nº 1160

Escritor Clerisvaldo B. Chagas detalha para a TV Gazeta as belezas da região. Foto: Manoel Messias.
O povoado Barra do Panema estava ali sob meus pés. Mal acreditava naquilo. Dava uma tremenda vontade de chorar ao fluir à lembrança de 1986 quando cheguei ali com Wellington Costa e João Quem-Quem, a pé, pelos areais do rio Ipanema. Havíamos saído de Batalha, povoado Funil, às três da madrugada e adentramos a Barra às cinco da tarde. Vejamos trecho do livro “Ipanema um rio macho”. “Penetramos triunfantes no povoado Barra do Panema às cinco horas da tarde do dia 9 de janeiro de 1986. Fomos comemorar com aguardente no bar Toca da Raposa, aonde havíamos chegado. Não havia tira-gosto. No povoado não tinha pão. Não havia bolachas para vender. Não havia peixe, nem carne, nem nada (...)”. A zeladora da igreja de N.S. Assunção nos recebeu bem e falou que a igreja, no morro-ilha, estava fechada para reforma. Desistimos de ir lá agradecer à santa. Dormimos num grupo escolar indicado pela zeladora. No livro “Ipanema um rio macho”, falamos da miserabilidade do povoado de Alagoas e o progresso de outro povoado bem à frente, em Sergipe. Diz o livro: “Voltei infeliz e envergonhado com o que constatei no lado alagoano”.
Igreja centenária em morro do São Francisco. Foto: Clerisvaldo.
A única mudança que encontramos foi a estrada boa de acesso; a rua da frente calçada com pedras; um prolongamento do povoado em direção à foz do Ipanema e algumas barracas na praia porque a estrada melhorada de acesso ao povoado estava atraindo pessoas de fora em final de semana. Afora isso, várias residências desabando ou desgastadas significando regressão. O rio São Francisco continuava bonito, mas assoreado.
Parcial do povoado Barra do Panema. Foto: Clerisvaldo.
Peguei o livro “Ipanema um rio macho”, abri na página 60 e indaguei aos moradores se eles conheciam a foto de uma mulher com sua netinha. Todos reconheceram dona Eliete, a zeladora que nos recebera na época. Não pude lhe abraçar porque ela estava em Salvador, fazendo exame de vista. A netinha de colo deveria estar com quase trinta anos agora, mas também se encontrava em outra região. Deixei um livro autografado para ser entregue à zeladora. Fui, então, ao Bar Toca da Raposa. Estava lá ainda o bar, o desenho da raposa, a dona do bar (antes bonitona) completamente envelhecida. Foi uma farra de alegria. Depois o marido apareceu e disse me haver reconhecido. De homem atlético, passou àquela figura típica de homem sessentão. Li trechos do livro sobre “A Toca da Raposa” e deixei um com eles. Para outros moradores indaguei sobre fotos de um casal perto de uma camioneta que nos traria de volta do povoado à Batalha, em 1986, páginas 62, 63 e 64. Ela seguiu conosco como passageira, o marido ficou. Muita bonita a fumante cabocla sertaneja. As pessoas identificaram os personagens na hora. Ela já havia falecido e ele também um ano depois. Fiquei triste novamente.
Marcílio e Manoel Messias animam a noite da Rua Delmiro Gouveia, em final de reportagem. Foto: Clerisvaldo.
Após saborosa peixada, escritores, profissionais da TV Gazeta de Alagoas e acompanhantes pisaram fundo de volta as suas bases.
Eu lembrava de 1986, página dinâmica, pura e nostálgica da minha vida.


 * Final da série de cinco crônicas sobre o trabalho para o programa "Terra e Mar" da TV Gazeta de Alagoas.
obs. Uma das fotos da (IV) crônica, na legenda onde tem "geólogo", leia-se "GEÓGRAFO".


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