LEMBRANDO
RAUL, LEMBRANDO O RIO
Clerisvaldo B.
Chagas, 22 de dezembro de 2017
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1807
RIO IPANEMA. FOTO: Clerisvaldo B. Chagas). |
IPANEMA
“Qual uma criança,
ciosa do seu melhor brinquedo, jamais afastei do pensamento a doce imagem da
minha infância no leito pedregoso do rio Ipanema. Ora eu andava em rompimento à
temporânea correnteza, ora saltava e mergulhava na quietude dos poços que a
enchente deixava em volta das pedras mais altas, que marcavam o remanso
impetuoso das águas velozes para o São Francisco.
Era assim na fase
hibernal, quando o leito do rio se paramentava orgulhosamente vestindo um
lençol líquido, às vezes alvacento, que, todavia, não durava muito; aos poucos,
com o avanço inevitável do estio, a coberta aquífera se rompia com a aparição
das pedras que iam despontando aqui e ali, e em breve, um lombo de areia também
surgia dividindo a vazante e serenando o embalo da correnteza.
Esse valente
tributário do famoso rio Chico, entra em Alagoas procedente do município
pernambucano de Pesqueira, seu nascedouro. É um rio querido das crianças que
habitam a sua longa e animada ribeira e aprendem a nadar e fazer pescarias, bem
assim, transformam o seu dorso de areias branquinhas e faiscantes em palco de
verão para as suas animadas e ingênuas brincadeiras.
É mesmo um gosto
beirarmos as margens do rio Ipanema fechadas por arbustos sempre verdes e,
também, fartos de passarinhos alegres e saudáveis, que ali se aninham para o
amor e a procriação.
Como se vê, o cálido
verão regional, não apaga de todo o encanto natural do rio Ipanema, mormente em
virtude da aparição de poços que restam da cheia e refrescam o ambiente
represando peixes e também crustáceos, como, por exemplo, aratanhas e pitus,
que, em clima de festa, são fisgados pela população em seus limites.
Tive a graça de
participar da delícia dos festejos que acabo de enumerar, bem como de, ainda
hoje – muitos anos são decorridos! – me deleitar na memória afetiva de todos
eles.
O Ipanema há de
acompanhar meus passos pela vida em fora, até que eu mergulhe no silêncio
perpétuo que é o manto indevassável que nos separa do misterioso Outro Lado da
Vida”.
·
MONTEIRO,
Raul Pereira. Lembranças. Ideia, João
Pessoa, 2002, págs. 33-34.
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