ENTERRANDO
OS SINOS
Clerisvaldo
B. Chagas, 18 de dezembro de 2017
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica
1.803
BÊNÇÃO DE NOVOS SINOS EM APARECIDA. FOTO: (G1). |
Conversando com amigos a respeito
da potência dos sinos de Igreja Nova e da Matriz de Senhora Santa Ana, de
Santana do Ipanema (Alagoas) entramos em parte da história do sino no mundo.
Dizem que foi na China que teve
início a história do sino, no ano de 3000 a.C. A Igreja tinha o sino como coisa
pagã e só foi reconhecê-lo no decorrer do século II d.C., para anunciar os
Evangelhos e chamar os fiéis para as
reuniões. No século VI os monges missionários introduziram os sinos na Europa
Central.
Fabricar sinos desde os enormes
aos simples sininhos de bois de carro, sempre foi uma arte. Foi a partir do ano
de 1600 que surgiu a técnica de produzir determinados timbres, notas e até
melodias. Falam que a partir daí, foi possível fazer soar vários sinos ao mesmo
tempo sem dissonância.
Quanto ao fabrico, é fantástico o
ritual. O sino é composto de 20% de estanho e 80% de cobre, levando-se em conta
a espessura, o timbre que se quer, o preparo da matéria e o escorrimento do
material fundido para dentro da forma. Além disso, vem o misticismo: tem que se
fazer silêncio e uma prece a Deus. Para que a forma não seja destruída ao
atingir a temperatura de 1.150 graus, ela é enterrada no chão da oficina e o
líquido incandescente escorre em sua direção por canais de tijolos. O sino só é
desenterrado, quatro dias depois, com a temperatura normal. O molde é retirado
e o timbre testado.
Um sino excelente soa a quilômetros
de distância. Nas guerras antigas os inimigos invasores procuravam em primeiro
lugar, calarem as vozes dos sinos que davam o alarme para os defensores. Muitos
sinos, com o advento do canhão, foram transformados em canhões, pelos inimigos.
Sinos foram derretidos para obtenção do estanho, durante as duas Grandes
Guerras, no século XX.
Em Santana do Ipanema (AL), o
quilombola apelidado “Major”, podia até não entender de fabrico de sinos; mas
foi o Mestre dos mestres dos sineiros do município e da região.
Major é major, pois não.
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