SERTÃO
CERCADO
Clerisvaldo B.
Chagas, 11 de dezembro de 2017
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica
1.799
Aveloz. Foto(Sr. Cariri - Blog). |
Esperamos que as informações abaixo sejam
bastante úteis aos que pesquisam sobre Agricultura, Pecuária e o semiárido em
geral. Não sabemos sobre os sertões de todos os estados nordestinos, mas em
solo alagoano, tivemos cinco fases de proteção das terras da caatinga.
A primeira fase, não mostrava nenhum tipo de
cercas nas propriedades rurais, grandes ou pequenas. No tempo do cangaço a
caatinga ainda se encontrava completamente aberta. Mas vale salientar que ainda
hoje em grande parte dos estados nordestinos, encontramos imensas extensões de
terras abertas.
A segunda fase teve início em Alagoas com as
cercas de arame farpado e estacas de madeira da própria caatinga, em um só
tamanho. Foi grande a novidade para o sertanejo, trazida pelo agrônomo Otávio
Cabral de Vasconcelos, em 1924. Com a cerca veio o arado de aiveca, o fomento
do algodão e outras novidades que fizeram a revolução no campo. De Alagoas,
Santana do Ipanema, a novidade alastrou-se para Pernambuco, através de Águas
Belas, ganhando outros estados nordestinos. O doutor Otávio Cabral, com ampla
passagem pelos Estados Unidos, chegou até ser prefeito/interventor de Santana
do Ipanema em 1932, por alguns dias ou meses. Foi assassinado no Sítio
Sementeira, estação agrícola experimental do governo (O Boi, a Bota e a Batina, história completa de Santana do Ipanema).
A terceira fase, década de 1960, foi a de
grande desmatamento da caatinga, inclusive, financiada pelo governo. O sertão
pelado, então, preencheu os limites das propriedades já cercadas com estacas e
arame ou não, com uma planta chamada aveloz ou labirinto, trazida não se sabe
de onde. O aveloz virou moda e o sertão alagoano fechou-se com ela, fazendo com
que nas longas estradas não fossem vistas mais as fazendas, somente os longos
túneis de labirinto que se formavam pelo plantio em ambos os lados das estradas
e se tocavam no alto. Nativo da África,
o aveloz é um arbusto que produz uma seiva tóxica e cáustica, capaz de cegar.
Seu nome científico é Euphorbia tirucalli
(hoje pesquisada contra o câncer e para fabrico de cola). Os seus aparadores
usavam máscaras, nos sertões.
A quarta fase, foi a retirada gradativa dos
aveloz das cercas, limpando o horizonte das paisagens rurais. Voltamos apenas
para as estacas de madeira e arame farpado.
Finalmente a quinta fase do Sertão Cercado,
estar utilizando cercas de arame com farpas, mas com estacas de cimento. Isso
devido à falta de estacas de madeira de boa qualidade e das leis ambientais.
Mesmo assim, encontramos ainda o uso de
estaca de madeira e áreas de terras que nunca viram uma cerca de espécie
algumas.
Esse é o meu Sertão Guerreiro.
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