O REPENTE DA TROVOADA
Clerisvaldo B.
Chagas, 10 de dezembro de 2018
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
“Crônica”:
2.022
Bem-te-vi anuncia a
trovoada
No galho mais fino
d’aroeira
Gavião procura a
quixabeira
Jararaca escapole da estrada
O macaco se coça na
quebrada
O trovão inicia um
tiroteio
O cachorro dispara
sem um freio
O céu abre na base
luz e risco
Um só golpe na força
do corisco
Lasca a velha braúna
bem no meio.
Quando vem trovoada
na fazenda
Espanta marimbondo e mangangá
Se afunila o focinho
do preá
O mocó dispensa sua
agenda
Urubu não encontra
mais merenda
Tanajura alça voo cai
no chão
Dá um tempo o
mergulho do carão
O muar na cancela é
acuado
A raposa vacila no
varjado
Perde o rastro as
antenas do furão
A bica amarrada não aguenta
Com o peso da chuva
na latada
O gatão dispara na
zoada
Um menino se engasga
com pimenta
A onça se entoca e
fica atenta
A criada escorrega no
batente
Relampeia pra os
lados do Nascente
O tempo escurece e
vira grude
Quando poca as
paredes do açude
Um sapão bem gordo
vai à frente.
Bate a chuva na terra sobe o cheiro
Que até espinheiro bota flor
De abelha tem beijo e beija-flor
E os cachos mais brancos do pereiro
A jurema, a urtiga, o imbuzeiro
Catingueira, angico e mororó
Por ali canta o galo carijó
Avisando a quem tá de atalaia
Essa noite vai ter rabo-de-saia
O tempero mais forte do forró
Quando cai trovoada é um colosso
Na lagoa improvisa o cururu
Maricota faz doce de caju
O meu cão pega carne larga o osso
A mulher puxa a corda deixa o poço
Enxurrada faz rego na ladeira
Pertinho da porta da traseira
Depois de comer uma pamonha
A patroa faz riso sem-vergonha
Com seu velho pelado na biqueira
No sertão quando desce a enxurrada
Vai lambendo as barreiras dos caminhos
Uma rês se engancha nos espinhos
Tem goteira na telha revirada
O jumento dá popa na baixada
O vaqueiro se abriga no grotão
Cozinheira pita no cachimbão
A patroa risonha bate a saia
Mostra a ele a calcinha de cambraia
E os dois gemem na boca do pilão.
FIM
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