O
SERROTE DO CRUZEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de dezembro de 2018
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.025
Serrote do Cruzeiro. (B. Chagas, livro 230). |
Os
mais velhos iam dizendo, apontando a pequena cavidade no rochedo: “Essa é a
marca do pé do menino Jesus, quando passou por aqui”. E tão ingênuos que éramos
jamais poderíamos contestar a afirmação dos adultos. Assim também se dizia que
no pé da alta cruz que abraçava os arredores, havia moedas enterradas por
Lampião. E que ali no cimo do lajeiro, fora lugar de negócios entre o chefe cangaceiro
e o prefeito fulano. Muita munição ao bandido para que não invadisse a cidade.
Claro, tudo conversa mole dos adultos naqueles passeios domingueiros ao monte
mais querido de Santana do Ipanema. Vamos colher fachos das macambiras para
brincar com os colegas; visitar a capela de Santa Terezinha ou as suas ruínas;
ver as poças verdes e os abrigos dos urubus; contemplar lá para trás o serrote
Pintado (hoje reserva Tocaia); sentar ao pé da cruz e filmar com a vista o
belíssimo cenário do vale.
Velho
cruzeiro! Fincado nas rochas na passagem do século XIX para o século XX.
Substituído apenas uma vez. Capela à santa Terezinha, construída em 1915, como
motivo de promessa. Caída e reerguida na década de 60; caída novamente e
reerguida de forma estranha na década de 90. Antigo Morro da Goiabeira
rebatizado como Serrote do Cruzeiro, após a sua cruz. Quantos milagres no
serrote e quantas promessas pagas no monte sagrado de Santana!
Cercado
por segunda mata de caatinga é servido por uma trilha maquiada que conduz ao
topo. Silêncio absoluto na subida ou farfalhar de lagartixas pela folhagem seca
do solo. Às vezes, guinchos de saguins vindos da Reserva. Passagens de cabeças
sob ramagens de arbustos e arvoretas na trilha tortuosa. E vamos subindo,
subindo, parando, descansando, apreciando... No crâneo, foto, foto para a capa
do romance “Deuses de Mandacaru”. É ali no início da subida que uma paz
inexplicável invade o coração de quem a busca. O começo de meditação profunda
que faz um bem danado ao praticante. Folhas ao chão, sossego na alma.
Que saudade do monte!
Quando voltar a Santana, nova incursão pelo
serrote, solitária ou com você.
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