PAPO-AMARELO
Clerisvaldo B.
Chagas, 20 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.028
ILUSTRAÇÃO: FLÁVIO FORNER (BBC). |
PAPO-AMARELO – Página 36. Bando de jagunços chefiados por Sabino e
guiado pelo rastejador Zé Praxedes, persegue um grupo de resgate nas caatingas
da Bahia.
─
Oxente! Visse não os carvão da fogueira dentro do buraco? Eu disse a vocês:
Tamo pelejando com rastejador do meu tamanho ou maior do que eu. É duro eu
dizer isso, mas rastejador bom no mundo não só era o meu veio pai, não.
O
jagunço chamado Passarinho, bebeu uma “frechada” da branquinha, animou-se e
começou a cantar:
Quando
Passarinho canta
toda a
natureza chora
Chega logo
bem-te-vi
Lavandeira e
siricora...
Chega logo
bem-te-vi
Lavandeira e
siricora.
Como o sujeito
tinha voz bonita mesmo, os outros escutavam em silêncio justificando o vulgo do
comparsa:
Veja os zoio
de Maria
Veja os zoio
de Sinhá
A saudade dos
seus zoi
Inda hoje vou
matá...
A saudade dos
seus zoi
Inda hoje vou
matá
Depois
de certo tempo com direito a sonhos, Sabino levantou-se do chão, bateu no
chapéu de couro como quem tira a poeira e disse:
─ Vamo!
E
os homens desceram a colina em fila cada um puxando seu respectivo animal pelo
cabresto. Agora Sabino tomou à dianteira e o rastejador foi para o final do cordão.
Vagareza
achava que uma das mulheres seria dona Cila e que antes da Marcação haveria
combate.
No
horizonte, bando de urubus fazia festa. Sabino disse:
─
Verão tá já chegando.
Vagareza
falou:
─
Eu nem sei qual é o pior. Se é inverno é um frio de lascar! Se é verão, o Sol
racha tudo. Como nem sou agricultor nem crio nada faço que nem Mané Guarda.
─
E o que foi que ele fez?
─
Ele não fez, Sabino, ele só vivia arreclamando da vida. Dizia que todo mundo
tinha nascido com uma estrela na testa, a dele tinha nascido no cu. “No
primeiro peido que eu dei, ela voou na casa da peste!”.
Sabino riu com muito gosto e depois indagou:
─
E tu acha que a tua estrela nasceu onde, Vagareza?
─
Home, deixa pra lá...
Pelos arredores a rolinha branca
saudava os caminhantes:
Urrrr...
Urrrr... Urrrr...
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