HISTORIANDO NA FILA
Clerisvaldo
B. Chagas, 26 de abril de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.099
RUÍNAS DA IGREJA DE SÃO JOÃO EM 1994. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230). |
E enquanto se aguarda na fila o dever com a saúde,
entra-se também na conversa alheia. A mulher da frente diz que a sogra não quer
vacina contra a Influenza. Repassamos
os inúmeros conselhos para se proteger da gripe que matou milhões de pessoas
desde a I Guerra
Mundial. E nas palavras vamos até a igrejinha de São João no subúrbio
Bebedouro/Maniçoba, em Santana do Ipanema. Erguida em 1917, juntamente como
motivo de promessa ao santo, contra essa mesma gripe de hoje. Foi o senhor João
Lourenço, morador local e grande promotor de festas no lugar, o responsável
pela igreja. Trabalhava ele no artesanato em couro de bode produzindo chapéus
juntamente com a família.
Devido as constantes notícias de mortes em massa, pelo
mundo, procissões eram realizadas com velas acesas da igrejinha de São João até
o centro da cidade. A igreja do Bairro
São Pedro – localidade mais próxima ao Bebedouro/Maniçoba – ainda não existia
porque apenas fora iniciada em 1915 e somente concluída na década de 30. A
igreja de São João foi profanada, mais ou menos na era 1960. Os santos foram
retirados e o templo foi acabado ao abandono.
Minhas fotos mostram os seus estertores. O senhor João Lourenço, já
idoso, veio a falecer devido às consequências de uma mordida de cobra jiboia,
conduzida por um soldado do Coronel Lucena. O praça, além da bebida, havia
surtado e percorria a feira com a jiboia retirada do quintal de Lucena que
criava animais presenteados. O praça, ao passar por Lourenço, jogou a cobra
estressada nas suas partes íntimas.
Não sei se consegui sensibilizar a senhora da fila para
tentar convencer a sogra pela opção da vacina Mas, de qualquer maneira contei a
narrativa, episódio da cidade e exclusiva do nosso livro: “O boi, a bota e
batina; história completa de Santana do Ipanema”.
Fila também é lugar de “casos” e me faz lembrar o
compositor que fala sobre o canário-do-reino, lembra-se?
Fui.
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