segunda-feira, 22 de abril de 2019

ORGULHO SERTÃO



ORGULHO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2019
                                             Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.096

Barreiro entre sertão e agreste. Ao fundo, serrote de Japão. (Foto: Ângelo Rodrigues/Repensado a Geografia de Alagoas).
O ouro do meu sertão é a água. Transparente, barrenta, suja, é a esperança de barriga cheia, fartura e vida. Quando chove semiárido é paraíso, quando armazena, divinos aplausos. A armazenagem sertaneja é feita naturalmente através das depressões, caldeirões e rachaduras de lajeiros pela água das chuvas. Chamamos a esses lajeiros, “pilões de pedras”, encontrados em inúmeras fazendas. São muito usados para lavar roupa, porém, mitiga a sede de animais domésticos e selvagens; e ainda serve às necessidades do gasto doméstico. Os humanos bebem dessa água sem restrições.
Quanto à armazenagem feita pelo homem o “barreiro” é o mais popular. Geralmente é feito em lugar baixo para aproveitar as águas de enxurradas e riachos. Era feito em batalhão (mutirão) onde o terreno é escavado e esvaziado através de couro de boi. Modernamente esse trabalho é feito através de tratores e nunca sai barato para o agricultor. O barreiro tem a forma tradicional esférica, mas pode assumir outras formas.
O “açude” ou “barragem” é muito maior do que o barreiro e varia de 100 metros a quilômetros, 3, 4 e até mais. Ultimamente os governos vêm disseminando cisternas de alvenaria ou plástico rígido, individualmente, nos sertão e agreste. Nas estiagens essas cisternas são abastecidas através de carros-pipas pelo governo do momento.
As estradas, as comunicações, os transportes, tudo com muita intensidade, fazem com que não se ouça mais sobre mortes de ser humano pela falta d’água. Rebanhos ainda morrem no sertão, muito mais pela falta de alimento do que pela sede. Apesar dos pilões de pedras, barreiros, açudes... Muita água se perde no sertão e toda armazenagem ainda é pouca.
Nós, sertanejos, continuamos resistindo bravamente iguais ao mandacaru, facheiro, xique-xique, rasga-beiço e coroa-de-frade. Fincados nessa terra abençoada de Meu Deus, lutando contra as adversidades e beijando corolas como abelhas embriagadas pelo néctar.
Sim, orgulho em ser nativo...
Nativo do SERTÃO.

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