segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O CRIME DO CIPÓ

O CRIME DO CIPÓ
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.157

SERROTE DO CRUZEIRO (FOTO: B. CHAGAS).
          Com a expansão da cidade, alguns sítios de periferia vão sendo engolidos. Uns permanecem com o nome de origem, outros ganham apelidos nessa realidade. Em Santana do Ipanema começou a urbanizar-se o sítio Cipó. Terras por trás do serrote Gonçalinho (Micro-ondas), o Cipó já teve sua tragédia que até pouco tempo era marcado por uma santa-cruz. Cipó é o nome genérico de todas as plantas e hastes finas e flexíveis que servem para atar; plantas trepadeiras que pendem das árvores; embira. Cipó vem do Tupi guarani (Ici’pó) fila-fileira. O casario que se forma por trás do atual Posto Lemos em direção ao sítio Curral do Meio fez a retirada da santa-cruz que marcava o Cipó. O episódio foi narrado pelo escritor santanense Oscar Silva no seu livro de crônicas “Fruta de Palma”.
          No início dos anos trinta, a região sertaneja sofreu anos seguidos de seca braba. Começou a haver, então, roubos de bodes, na periferia santanense. A pobreza passava fome, mas foi notado que os filhos pequenos do senhor Laurindo, ou coisa parecida, estavam sempre gordinhos. Designado para resolver os problemas de roubo, o soldado Zé Contente e um comparsa, desconfiaram de Laurindo. Prenderam-no e o acusaram de roubo de bode. Mesmo sob protestos de inocência, o cidadão foi preso, amarrado e torturado. O sádico policial Zé Contente, furou o bucho do mulato, mas só encontrou alastrado. Laurindo passava o dia pelo serrote colhendo alastrado para alimentar a filharada. Foi vítima do maníaco e uma cruz na estrada ficou conhecida como a Cruz do Cipó.
          Felizmente o episódio foi resgatado pelo escritor da época. Este assunto já foi apresentado certa vez, mas com a ameaça urbana em deglutir o sítio, retornamos ao tema para que não fique no esquecimento o pequeno ramo da História Municipal. Vale salientar que nem sempre um livro de história conta todos os fatos. Crônicas, novelas, romances, poesias e outras publicações sempre contêm em algum lugar, testemunhos complementares dos escritos oficiais. Em breve, outros sítios periféricos estarão nas mesmas condições do sítio Cipó.
          Será que irão aparecer abnegados pesquisadores?
          Deus é o Senhor dos tempos.




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