AGUARDANDO TROVOADAS
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2021
Escritor Símbolo de Sertão Alagoano
Crônica: 2.459
Quem conhece os sertões nordestinos, também
conhece as agruras das longas estiagens e, consequentemente, os barreiros,
açudes ou barragens da região. Os barreiros são depósitos d’água escavados no
solo em lugares que possam receber o fluxo das enxurradas. Eles podem ser
pequenos, médios ou grandes, quase sempre de forma arredondada. Os barreiros,
muitas e muitas vezes menores do que as barragens ou açudes, são as formas mais
grosseiras, baratas e simples de acumular água nas propriedades sertanejas.
Antes, o barreiro era feito manualmente em forma de mutirão. Na época de
limpeza, isso também era realizado manualmente usando-se o couro de boi
esticado para jogar a lama fora. Hoje, usa-se o trator para cavar o barreiro e
para a limpeza periódica.
Alimentado pela terra nua, os
barreiros recebem água da chuva diretamente e por meios das enxurradas nos
terrenos inclinados, ocasião em que essas enxurradas trazem com elas muita
sujeira e terra na lixiviação do relevo. O barreiro enche, todavia, fica
assoreado, recebendo cada vez menos água em cada chuvarada. Daí a necessidade
periódica do que se chama por aqui de limpeza. Retirada toda a areia, lama, e
sujeiras outras, volta o depósito a receber e acumular quantidade maior de água
que vai ajudar a varar a estiagem até a volta do período chuvoso. O pequeno
agricultor não consegue sozinho fazer essa limpeza, pois não pode pagar os
custos do procedimento. Daí entrar a prefeitura através de algumas secretarias
nas ações gratuitas assistindo à Agricultura Familiar.
Tudo isso tem que ser feito no
período certo, isto é, antes da chegada das trovoadas, chuvas fortes e
benfazejas dos sertões. É assim que estar procedendo a prefeitura de Santana do
Ipanema, limpando os barreiros do pequeno agricultor, enquanto no céu, arrodeia
e ameaça as trovoadas de janeiro. Dia o ditado popular: “Trovoada de janeiro
tarda, mas não falta”. Também é época de reparar os telhados. No sertão,
reparar é olhar, prestar atenção, mas o reparar do texto é conserto mesmo nas
telhas que se afastam nas caçadas dos gatos.
Faz muito bem a espiada eficiente da
prefeitura para o social do campo. É de lá que vem a alimentação dando fartura
à nossa mesa e dispensa com produtos agrícolas de boa qualidade.
Viva a Agricultura Familiar!
(FOTO CRÉDITO: JEAN SOUZA/SERTÃO NA
HORA).
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