A
PRINCESA DE CORISCO
Clerisvaldo
B. Chagas, 7 de janeiro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.446
Quando o bando de Corisco passou pela fazenda Lagoa da Pedra, mostrava-se no céu a barra do dia. Os cangaceiros não interromperam a marcha, porém o chefe fez uma observação à Dadá e aos parceiros. Disse Corisco, vendo a minha tia Dorotéia no curral, sentada no banquinho de tirar o leite, saia rodada: “Olhem ali aquela dona, tá parecendo uma princesa!”.
Voltemos
aos costumes do Sertão. Nas fazendas de gado, qualquer pessoa pode tirar o
leite das vacas. O vaqueiro, o morador comum, o dono da fazenda ou o
profissional específico denominado “tirador de leite”. No Sertão nordestino não
se diz: ordenha e nem ordenhador. É “tirar o leite”, é “o tirador de leite”. Como
foi dito, qualquer pessoa da fazenda pode fazer esse serviço, principalmente
quando se trata de uma, duas, cinco vacas. O vaqueiro pode realizar isso,
embora sua missão principal seja campear o gado. O vaqueiro pode ser um bom
tirador de leite ou não.
Quando
a fazenda possui muitas reses, é costume contratar o tirador de leite. Este é
um profissional com experiência, habilidade e boa munheca para dá conta de
tantas reses. Logo madrugada, em torno das quatro horas, o tirador de leite já
está no curral com seu equipamento: um banquinho, uma corda e um balde. No
inverno, enfrenta a chuva e o curral enlameado com estrume, situação
tremendamente desconfortável. Mas ele é o homem que garante a produção leiteira
da fazenda nas fábricas, nas residências... Nas mamadeiras das crianças.
Raríssimas
fazendas sertanejas possuem sistema de ordenha moderno, através de máquinas. Assim,
o tirador de leite ainda é peça fundamental de imenso valor na pecuária
nordestina, muito embora sua remuneração não chegue nunca à altura da sua
importância; cabra bom na munheca que o diferencia de todos os moradores
empregados. É moda falar sobre o vaqueiro, mas o verdadeiro e específico
tirador de leite fica invisível na literatura sertaneja.
E
nós da cidade, nem temos a mínima ideia da rotina de uma fazenda sertaneja de
criar. É dali que sai o leite, o queijo, o iogurte, a carne, o couro dos
sapatos, a diversão das vaquejadas e a moda do chapéu de couro dos forrozeiros.
Estamos
mostrando detalhes do Sertão que nem sempre está ornado com a PRINCESA DE
CORISCO.
CORISCO
(FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO).
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