OS
PREÁS DA BARRIGUDA
Clerisvaldo B. Chagas, 10
de fevereiro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.461
Quando
criança, fui visitar algumas vezes, a casa do senhor Cirilo, último tropeiro de
Santana do Ipanema. Subia a calçada de pedra do Almocreve, à Rua Antônio
Tavares, a convite de outra criança, Iran Siqueira, filho do cabo Leôncio e
Dona Bela. Tudo para ver de perto a pequena criação de mocós em um dos cômodos
da casa. Os mocós estavam ali, branquinhos com manchas coloridas na pelagem.
Era realmente apaixonante contemplar aquelas criaturas fofinhas e dóceis que
Iran dizia serem dele. O mocó (Kerodon rupestris), família Cavidae, é um pouco maior
do que o seu parente preá e, ambos vivem em lugares de pedras e lajeiros, onde
possuem a toca protegida. São muito perseguidos pelos predadores como as
cobras, os gaviões e os homens. Por sua vez o preá (Cavia operea) também
chamado Bengo, tem pelagem cinza e pertence à família Cavidae. Ambos não têm
cauda, são roedores como o rato e se alimentam de folha, capim, frutos e cascas
de árvores.
Esses
simpáticos roedores podem ser uma praga para a agricultura, porém já
alimentaram milhares de pessoas nas grandes estiagens sertanejas. São caçados a
tiros, com armadilhas chamadas aratacas e de muitas outras formas.
Nessas
alturas da vida, pensei que não mais existissem esses atrativos cavídeos,
devido à fome, ao desmatamento e a intensa caça predatória.
Fui,
então, surpreendido pela belíssima foto do secretário da Agricultura municipal,
Jorge Santana, fruto das suas constantes andanças pela zona rural. A fotografia
representa o sítio Barriguda, cortado pela AL-130, onde está exposto o sapo de
pedra – atração turística – feito por artista local. Achei a foto a mim
enviada, uma relíquia. Representa um casal de preás, logo cedo do dia, tomando
Sol nas pedras do entorno da toca matriz. Além disso ainda tem um pequeno
facheiro, vegetal espinhento da caatinga e as rochas de granito rachadas pelas
intempéries. É o meu Sertão alagoano ensolarado e palpitante de vida selvagem
montado nas coisas tão belas, presentes do Criador.
Passe
Corona, passe que eu quero voltar aos campos da minha terra com máquina
fotográfica, água no cantil embornal a tiracolo e muito amor no coração. (FOTO:
JORGE SANTANA).
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