AS
CARÇAS DO CARCELEIRO
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de janeiro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.455
No
momento em que o estado de Alagoas estar abrindo concursos para diversos
seguimentos sociais, chegou à lembrança de um acontecimento humorístico já
apresentado aqui faz bastante tempo. Omitiremos desta feita o nome do
protagonista, para evitar melindres desnecessários.
O
penúltimo dos grandes alfaiates de Santana do Ipanema, também seresteiro e
pescador ocasional, trabalhava em sua residência à Rua Nilo Peçanha que por
coincidência também pertencera a outro alfaiate e pescador conhecido como Seu
Quinca. Porta de ferro aberta direta para a rua, grande balcão de trabalho,
manequim olhando para fora e fita métrica no cabide do pescoço, nosso amigo
alinhavava de pernas cruzadas. Vez em quando chegava um cliente para encomendar
uma roupa ou um conhecido para puxar conversa.
Fo
assim que em manhã de trabalho puxado chegou um amigo auxiliar de mecânico,
fala mansa, estudo a desejar e a conversa com “Seu Juca” teve início. O
visitante sentou-se num banco de tiras de couro e abriu o livro da sua vida.
Juca de vez quando estimulava a palestra que girava em torno de trabalho,
emprego, remuneração e coisas assim, até que foi tocado o assunto novidade de
Alagoas: o concurso público cujo edital já fora publicado. O Alfaiate indagou
se o amigo já estava sabendo e recebeu resposta inusitada.
As
pessoas de pouca instrução costumam chamar “carça”, no lugar de calça: “Nem deu
tempo de fulano vestir as carça”.
Pois
bem, voltemos ao diálogo. Esperançoso com as boas novas do estado, o auxiliar
de mecânico disse: “Eu mesmo vou fazer o concurso para carceleiro”
(carcereiro). Juquinha fez de conta que tinha ouvido mal: “Concurso para quê?”.
“Para carceleiro”, repetiu o mecânico. Juca deixou escapar uma risada gostosa e
irônica e disse: Tá doido, rapaz! E você vai fazer “carça” na penitenciária?
Diante da sarcástica advertência, o mecânico tentou remendar as “carça” perante
o alfaiate... Gaguejou aqui, acolá... E zás! Abandonou ligeirinho o banco de
tiras e mergulhou na Rua Antônio Tavares, onde morava, levando a vergonha na
cabeça, na camisa e nas “carças dos carceleiros”.
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