domingo, 23 de abril de 2023

 

VAMOS RODEAR

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.870

 

Não havia pontes em Santana. Quando o rio Ipanema botava cheia, o grande número de mascates que negociavam nas feiras de Olho d’Água das Flores, Carneiros e Pão de Açúcar, principalmente, não sabia como driblar o rio. Mas quando surgiram os canoeiros que atuavam na parte mais larga do Panema, o poço do Juá, os mascates passaram a utilizar as canoas que transportavam gente e todas as mercadorias. Quando construíram a primeira ponte sobre o rio Ipanema, no local Barragem a 2 km do Centro, os caminhões de feirantes contornavam trechos do rio pela “Ponte da Barragem”, pelo lugar Volta (volta do rio) desciam e subiam a ladeira até a fazenda do senhor Marinho Rodrigues e que depois ficou conhecida como “a fazenda de Dr. Clodolfo”, herdeiro de Marinho (próxima ao hoje hospital dos SUS).

Entre os proprietários de caminhões, estavam o senhor Plínio e o senhor José Cirilo. Os mascates trafegavam para as feiras dos citados municípios acima, sentados sobre as mercadorias e com as pernas para fora nas partes laterais dos caminhões. Nas proximidades do destino, o motorista encostava no acostamento improvisado da rodagem, subia para a carroceria e iniciava a cobrança da passagem. Às vezes, ao retornarem à tardinha, das feiras, o valente riacho João Gomes não dava passagem. Sem ponte ainda, era duro o transporte de mercadorias de uma à outra margem (tipo baldeação forçada) e que depois iria ainda para o rodeio pela fazenda do Dr.Clodolfo até a passagem da ponte da barragem construída em 1951.

As viagens dos mascates, longe da monotonia, conversas animadas e piadas naquelas cargas de homens, mas que havia também raras mulheres que viajavam na boleia ou mesmo na carroceria quando não tinha vaga. As vezes surgiam cenas inusitadas pela rodagem e as piadas saíam de mascates gaiatos, assim como Geraldo, vulgo Rinchel. O transporte saía logo cedo e podia encontrar de tudo pelo trecho. Assim, um homem praticando zoofilia com uma jumenta foi visto num recanto de cerca e logo apontado por um dos passageiros: “Estar aplicando injeção na bichinha!”. E o caminhão muito veloz cobrindo o mundo de poeira.

A ponte sobre o rio Ipanema, em 1969, minorou vigorosamente aquelas epopeias.

PONTE DA BARRAGEM -1951.

 

 


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