LAMPIÃO DIVERTE, CORISCO
FILOSOFA
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de agosto de 2012.
Crônica Nº 836
CORISCO. (Fonte: popular). |
Ao se
entrar no
mundo do finado cangaço, a princípio parece estrada simples a ser percorrida. À
medida que o pesquisador aprofunda-se no seu mister e deseja de fato dedicar
sua vida a isso, vai descobrindo que existe uma teia que lhe barra a saída.
Geralmente quem se aprofunda na literatura lampionesca de corpo e alma, não
consegue mais escrever sobre outros assuntos, pois fica impregnado de cangaceiros
dias, meses, anos seguidos. Nas rodas de
amigos não fala sobre outros assuntos, dentro do vício que pegou e não consegue
largar, como se os mortos não o deixassem sair das suas causas. Escrever sobre
cangaço não é e nem nunca foi tarefa das mais leves. É preciso, além de outros
atributos, muita paciência, como outro assunto qualquer interessante, pois os
enganos se sucedem a cada passo. Um dos maiores perigos de quem escreve sobre o
tema, armadilha aberta, é acreditar na primeira informação, assim como de
primeira informação era Corisco, o mais famoso cangaceiro do grupo de
Virgolino. O engano (lapso) ou a proposital mentira estão em todos os lugares
das pesquisas.
Examinando documentos da época
cangaceira, entre 1938 e 1940, descobrimos inúmeros desses lapsos, como se a
Imprensa da época tivesse azoada com tantas desencontradas informações. Quer
dizer, o pesquisador nem pode dizer que escreveu “aquele engano” extraído de
documento, pois o documento estava informando errado. Nomes trocados de cangaceiros; anúncio de
mortes de cabras que continuavam vivos; números de membros do cangaço e
volantes abatidos; quantidade exagerada de cabras em ataques; Feitos bárbaros
atribuídos a cangaceiros que não cometeram os feitos... Enfim, o pesquisador
sério tem trabalho noite e dia em suas buscas comparativas para poder
publicar o que chega mais perto da verdade. Recentemente tive em um lugar onde
um homem passou a ter suas ações contra os bandidos, decantadas em livros. Um
pesquisador do lugar afirmou que tudo que ele falava era mentira, mas a família
influente queria que a vantagem do cidadão continuasse nos livros de antigos e
novos pesquisadores. Pelo visto, a história do cangaço, como qualquer outra
história, é vista por ângulos, como olho de mosca. Não existe limpeza cem por
cento nem nos escritos mais severos sobre o tema.
Nessa última investida que
fiz sobre o passado irrequieto do Sertão, balancei a cabeça ao ver ali, também
documentado, um testemunho curto do cangaceiro Pancada, muito falado em
Alagoas, assim como Moita Brava. Dizia ele, na prisão, que ao saber da morte de
Virgolino, em Sergipe, Corisco ─ que estava no lado alagoano na hora da chacina
─ teria dito: “Acabou-se o divertimento
do mundo”. Você sabia leitor, que “Virgolino divertia o mundo?” Eita passado misterioso compadre!
Enquanto LAMPIÃO DIVERTE, CORISCO FILOSOFA.
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