quinta-feira, 2 de agosto de 2012


NO PAU DA VENTA
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de agosto de 2012.
Crônica Nº 833

Fonte: Blog AIAS
Continua o inverno atrasado em Alagoas. No Sertão, uma chuva fina contínua vai protegendo a não vontade de deixar a casa cedo. Chove pelo dia, chove pela noite, trazendo uma frieza típica da época, cuja hora do auge é lá para as quatro da madrugada. Pelo menos, graças ao bom Deus, não se houve falar em tragédias por causa da chuva, pois, como pedia um padre de Santana do Ipanema, “que venha um bom inverno e a chuva chegue mansa”. Se ainda vai dar para salvar alguma coisa, somente o homem do campo é quem pode dizer. Em tempos normais as nossas chuvas não passavam do dia 15 de agosto, quando caíam "as últimas tamboeiras”, como dizia o poeta sertanejo Rafael Paraibano da Costa e, o frio desse mês era muito maior do que o mais chuvoso julho, mês da padroeira Senhora Santana. Os agricultores falavam sempre do medo da frieza de agosto para a lavoura que poderia destruir as plantações que restavam de feijão e milho, além da praga de lagartas. Mas o tempo endoidou e não temos certeza mais de nada. Tem se registrado o prolongamento das chuvas até o dia 7 de setembro, um mês seco por tradição e até alcançado o mês de outubro, o mais enxuto do ano.
O Sertão continua, mesmo assim, sendo o lugar desprezado pelas autoridades, que pensam que fornecer semente de boa qualidade é tudo que o sertanejo deseja. Já batemos outras vezes nessa tecla velha, muito mais de que orador romano advertindo sobre Cartago. Aqui se faz uma política de mandar carneiros, bodes e sementes para o interior, como a gente faz com roupas velhas quando não prestam para nós. Enquanto isso, o litoral ganha novas indústrias todos os meses, com incentivo do governo estadual. Além disso, o incentivo ao turismo permite inúmeras construções de hotéis e, europeus não param de chegar à orla, gastando os euros e dólares que podem gastar. Muitos italianos até já fazem moradas por ali, atraindo novos compatriotas para o nosso litoral. E vão ganhando indústrias e hotéis pelo incentivo, Maceió, Marechal Deodoro, Maragogi e Murici. Nada escapa para o Sertão, a não ser os níqueis jogados dos bornais da caridade entre bodes e ovelhas. Está aí para ser iniciado a qualquer momento o estaleiro EISA que dará emprego a mais de dez mil pessoas e atrairá inúmeras outras indústrias para o mesmo litoral. A política mesquinha de um governo usineiro da Zona da Mata é uma coisa! Nada adianta o poeta-repentista Sebastião da Silva ter dito:

“Carneiro do meu sertão
Quando sua orelha esquenta
Dá tacada em baraúna
Que a casca fica cinzenta
Sentindo o gosto de sangue
Descendo no pau da venta”

Do pau da venta dos carneiros sertanejos não escorrem sangue. Os bichos já estão pacificados. Nem baraúna tem mais para o exercício da raiva. E assim vamos ficando abandonados à própria sorte, como os mendigos que sobram nas ruas. Afinal, para que Sertão com progresso? É bastante passar pano molhado e pronto, se houver algum sangue perdido NO PAU DA VENTA.




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