LAMPIÃO E O CHIQUEIRO
VÉIO
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de agosto de 2012.
Crônica Nº 834
(Para Archimedes Marques e José Mendes Pereira)
Bornal à cangaceira. |
Muito ainda se especula
sobre a fortuna do bandido Virgolino Ferreira da Silva. É de fato
impressionante o puxa-puxa dos que se dedicam à causa lampionesca, na tentativa
adivinhatória documentada do paradeiro monetário virgoliniônico. O grande
mistério e desencanto para os pesquisadores, é que uma pessoa muita maldosa
cortou a língua do dinheiro. Com o bichinho mudo, ficou mais difícil saber qual
era o real poder de fogo dos embornais microbianos do chefão. Quanto tinha de
fato no papo-de-ema que Lampião conduzia na cintura? E nos bornais? E nos
bolsos? Qual o valor em joias e dinheiro que havia nas mãos dos seus
coiteiros-bancários de confiança? Caso fosse de fato descoberto cem por cento
esse enigma, outra interrogação ocuparia com muito mais força o lugar da
primeira. Uma pergunta, sem dúvida, desdobrada em miríades. Teria sido mesmo
Bezerra, o sortudo ganhador do papo-de-ema, dos bornais e bolsos do comandante
cangaceiro? E o tanto de joias que daria uma bacia de rosto, correu para onde?
As inúmeras fazendas compradas por Ferreira escolheram quais herdeiros? Quem se
denomina “pesquisador de cangaço” e outros títulos, corram para investigar e
nos dizer com a certeza dos cartórios, pois o leitor exigente quer saber.
Em 1938
─ quando
as cabeças dos cabras trucidados em Angicos viajaram a Maceió ─ houve
questionamento. Após a exposição em Palmeira dos Índios, cidadãos do núcleo,
nas praças, barbearias, bares e portas de igrejas, indagavam uns aos outros,
onde estaria a verba deixada por Virgolino. No bate e rebate das discussões,
segundo o escritor Valdemar de Souza Lima, saltou um velhote da cadeira de
barbeiro e falou. Disse que após a carreira de Mossoró, destroçado, via
Pernambuco, Virgolino foi bater no povoado ribeirinho Entremontes, do São
Francisco. Ali em Alagoas, com a pressa da passagem, arrumou uma canoa para
atravessar o rio, ele e seu reduzido grupo. Numa bodega miserável
apresentou-se, deixando sem fala momentaneamente a dona da espelunca. Pelo
mutismo da mulher, ele mesmo escolheu a mercadoria e indagou a conta, feita por
ela, que importou em cerca de trezentos mil réis. Lampião passou-lhe uma nota
de quinhentos, a dona alegou que não tinha troco e mandou o bandido levar tudo
como oferta da casa. O homem, estando tremendamente mal-humorado, rosnou que “não queria favor, não!”. A dona da
bodega, com um medo triste, perguntou como ficaria, pois troco não tinha. Foi
aí que Lampião, num gesto brusco da peste, empurrou a nota para cima da mulher
e falou com orgulho, soberba e grosseria do mundo todo: “Pois fique com toda essa porcaria pra você, que eu tenho mais dinheiro
de que bosta de cabra em chiqueiro véio!”.
Os
entendidos
calculem, então, com auxílio de um matemático, a quantidade de rolinhos pretos, como quixabas, em chiqueiro velho de caprinos, por metro quadrado. Talvez aí tenha início à solução do
mistério de quanto era em contos de réis, a fortuna de Ferreira. Ê... Cabra
macho sabido, medite aí sobre LAMPIÃO E O CHIQUEIRO VÉIO.
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Caro amigo Clerisvaldo Chagas:
ResponderExcluirMuito obrigado por também dedicar o presente texto à minha pessoa, no caso um ainda curioso do assunto cangaço, apesar de ter escrito o livro refutação LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE, tão bem discorrido nesta folha em excelente crônica anteriomente disposta.
Concordo em número e grau que a fortuna que Lampião e seus cabras carregavam nos seus embornais era incalculável, como também acrescento que muita gente enriqueceu às custas do cangaço, às custas do sofrimento do povo nordestino. Muitos militares corruptos vendiam armas e munição, além de darem proteção a Lampião. Não é atoa que ele conseguiu sobreviver por mais de vinte anos praticando todos os tipos de atrocidades possíveis. Para muitos Lampião ERA UMA MINA DE OURO, por isso a sua vida era tão valiosa e muito bem preservada.
Aqui no nosso querido Estado de Sergipe ele "deitava e rolava", pois afinal de contas era protegido do "Coronel" ANTONIO CAIXEIRO, pai do Capitão Eronildes de Carvalho, mais tarde, ainda na época do cangaço, governador do Estado. Assim, a polícia sergipana fazia de conta que caçava Lampião e este por sua vez fazia de conta que era caçado.
Voltando a questão da riqueza obtida ilicitamente por Lampião, dizem os mais entendidos ésquisadores do assunto que na região do Raso da Catarina na Bahia ele enterrou verdadeiros tesouros em ouro, joias e libras esterlinas. Com certeza esses "rolinhos pretos", como diz o autor Clerisvaldo Chagas, podem ainda estar em alguns lugares.
Abraço fraternal.
Archimdes Marques