O ADEUS
DE AGOSTO
Clerisvaldo B.
Chagas, 31de agosto de 2012.
Crônica
Nº 854
SERTÃO SECO. (fonte: Wikipédia). |
Diz o povo do Sertão: “Mês
miou, mês findou”. Como o mês não mia, sabemos que ele quer dizer: “mês
meou” do verbo mear. De fato, parece mesmo que os primeiros quinze dias demoram
mais. A partir do dia quinze, o povo, psicologicamente, tem razão, no instante
o mês termina. Com a mesma quantidade dos trinta e um dias, agosto sempre traz
a impressão de que é o mês mais espichado do ano. Em nossa região sertaneja
alagoana, representa o final das chuvas de outono/inverno. A partir do dia dez –
dizia o poeta-repentista Rafael Paraibano da Costa, vão caindo as “últimas tamboeiras”; chuvas fracas que
vão escasseando até encerrar o tempo chuvoso. É nesse período de agosto que a
frieza costuma doer nos ossos. Esse ano as tamboeiras dos quinze dias chegaram,
aproximadamente, ao dia 25/26. Com o inverno atrasado de início e terminando no
prazo, o Sertão exibe o seu verde camuflado tentando esconder à seca. Deveremos agora enfrentar os meses enxutos de
setembro e outubro e a incerteza das trovoadas a partir de novembro a janeiro.
O homem se debruça sobre os sinais da natureza no seu
estudo mameluco. É o ciclo da lua, os movimentos dos formigueiros, a casa do
joão-de-barro, o voo dos pássaros, a flor de mandacaru, a estrela matutina, as
condições do rio Ipanema, a direção do vento, a barra do dia... E por trás do
verde desbotado dos pereiros, dos alastrados, das imburanas, o fazendeiro
contabiliza os prejuízos de uma seca danada. Faltou leite na fazenda e dinheiro
nos alforjes. A seca bateu no sertanejo com cacete de mororó, endureceu o couro
das novilhas, enfraqueceu o boi. Os urubus, fartos, voam serenos no pano azulado
e se escondem nos píncaros dos serrotes.
Cobras se enroscam nos pedregulhos, dormitando das caçadas. No céu surge
uma luazona refletindo o dia, convidando à ternura, aos sonhos mais belos das
caatingas. Canta o galo nas madrugadas puras sob o piscar azulado das estrelas.
Em breve a arte divina também refletirá nos tons angélicos da alvorada.
Na cidade os pardais levaram os seus novinhos. As
garças migratórias ainda permanecem aguardando a ordem de retorno. E as
periferias vão se cobrindo do branco pantaneiro. É dia 31 no Brasil grande. Dia
de receber salário, tempo de mangar de superstições, época de pensar na
primavera. Da varanda do tempo é bom agitar o lenço imaculado e corresponder ao
cavalheiresco ADEUS DO MÊS DE AGOSTO.
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