ZÉ CHAGAS E OS
CAIXÕES DE DEFUNTO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de maio de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica 1.909
CARTAS. (IMAGEM: DOMÍNIO PÚBLICO). |
Já abordamos este assunto. Animando as
cidades do interior, nunca faltam alguns gaiatos nas comunidades. Em Santana do
Ipanema, o individuo Zé Chagas alegrava o ambiente quando chegava trazendo sua
verve para brincadeiras. E se tivesse tido antes de falecer, a ideia de andar
com um pajem para anotar os seus feitos, por certo teria publicado um livro
humorístico de muitas e muitas páginas. Explorava casas de jogatina e, por ter
um gogó acentuado, parecia um urubu.
Foi lá
no Beco de São Sebastião, na casa da esquina, cujo prédio já tinha sido muitas
coisas e naquele momento abrigava o baralho. Nós, os meninos, brincávamos
zoadentos sobre uma janela com meia tala, numa noite de festa de Senhora Santa
Ana, a padroeira. Fui um dos atingidos por um balde d’água jogado pela janela.
Havia sido jogado por Zé Chagas, o comandante da casa.
Já rapaz feito, vi sentado à porta fechada da
nossa loja, dois negros altos conversando baixo: Filemon, ex-cangaceiro e Zé
Preto, o manganheiro que construiu um oratório na croa da pedra do sapo, no rio
Ipanema. Para todos os mortais, nada. Mas para Zé Chagas que vai passando,
lembra um pássaro preto do sertão e exclama com toda maledicência: “Espia onde
está um casal de anum”, e aponta para ambos.
E quando um amigo indaga a outro se acha Zé
Chagas muito feio, o cabra responde: “Eu só não acho porque já me acostumei com
ele”.
Assim chegou a cartomante Maria Galega,
oferecendo seus préstimos e deitou cartas para Zé Chagas, quando abriu a
sessão: “Estou vendo ouro na sua vida”. E o gaiato respondeu na bucha: “Só se
for ‘ourina’, Maria”.
Quando o dono da casa de caixões de defuntos
quis dá uma saidinha, pediu a Zé Chagas que tomasse conta que “ele chegaria
já”. E Chagas, que atuava defronte com a casa de jogo “O Bafo da Onça”,
prontificou-se em atender ao amigo. Eis que chegam pai e filho para comprar um
caixão. Vão perguntando o preço e Zé Chagas dizendo. De repente o viúvo indaga
se ele faz um preço menor no ataúde. Zé Chagas não mede consequência e liberta
sua verve gaiata: “Só faço menor preço se o amigo levar dois”.
E o primo “véi” só não levou uma surra das
maiores por causa da turma do deixa disso.
Deve estar brincando por aí, na outra
dimensão.
Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2018/05/ze-chagas-e-os-caixoes-de-defunto.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário