LIVROS, FEIJÃO E
FARINHA
Clerisvaldo
B. Chagas, 22 de maio de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica 1.906
Foi durante uma
peleja entre os dois grandes cantadores, João Cabeleira e Manoel Pedro
Clemente, conhecido como “o cego Manoel Pedro Clemente”. Em determinada altura
da cantoria, o poeta João falou mal de mulher, dizendo mais ou menos que ela
era ruim e fuxiqueira. O repentista Pedro Clemente aproveitou a deixa para
ganhar a plateia:
Amigo João Cabeleira
Não diga palavra à
toa
Não existe mulher
ruim
Só existe mulher boa
Se não prestar pra o
marido
Mas serve prou’tra
pessoa.
O brasileiro, em
geral, não gosta de ler (tirando os que não sabem). Sempre observamos isso, mas
agora com a tal Internet, cabra velho, no modo de dizer: ninguém parte para a
leitura de mais de cinco linhas. Toda a
leitura nos dias de hoje se resume no: clique na foto. Kkkkkkkkk, é a nova
linguagem do riso. E se a coisa já estava preocupante, chegamos à geração
figura. Mesmo assim os “doidos” continuam produzindo livros, quase sempre
vendendo geladeira a Antártida. E diante dos novos caminhos, livros vão
resistindo pelo modo impresso, diante da ameaça virtual.
O mundo livresco tem
de tudo: livro de santos, de safadeza, documentário, bruxaria, jogos,
novelas... E assim por diante. Têm livros excelentes, bons, médios, tronchos e
os livros abóboras de lixo. Mas assim como afirma o povo: “não falta chinelo
velho para pé doente”, procura-se o que se almeja. Seguindo, então, a filosofia
do segundo cantador, não existe livro ruim, porque “o que não presta para o
marido, mas serve para outra pessoa”.
Vivendo nesse mundo
onde todo sujeito é sábio, melhor é não achar de maneira alguma, mulher feia e
ruim. O corujão dela precisa. E se o corujão precisa, indica que se deve também
comer o livro com feijão e farinha.
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