domingo, 6 de janeiro de 2013

FACHO DE MANDACARU



FACHO DE MANDACARU
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2013.
Crônica Nº 941
Mandacaru. (Wikipédia).
“Lá em Santana do Ipanema, a gente media o valor das pessoas pelos seus improvisos oratórios. Ainda me lembro que o bondoso vigário José Bulhões falava muito bem, mas não gostava de pregar todos os domingos, sobretudo depois que começou a usar óculos. O juiz de Direito, Dr. Manoel Xavier Acioli, não enjeitava parada, no Júri, no Tiro-de-Guerra e nas festas cívicas ou religiosas. E meu professor de Gramática no ‘Instituto Santo Tomás de Aquino’, o inteligente e lido Pedro Bulhões discursava até em francês, nos dias de carnaval, saudando ‘la ursa’ do italiano Cariolano Amaral, ou ‘les négresses de la côte’ do moleque Alcebíades”
O trecho acima do emérito escritor Tadeu Rocha, vai dando margens aqui e ali para excelente fonte de pesquisa sobre o movimento literário em Alagoas, em “Modernismo e Regionalismo”, editado em 1964. Figuras importantes desfilam pelo seu ensaio, Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, Oscar Silva e vários outros intelectuais que se encontravam e viviam em Maceió. Mas Tadeu, escritor santanense, também pincela o interior do estado, com seus vultos destaques da época, na política e nos movimentos literários. Entre suas lembranças escritas com vigor e clareza, Rocha diz o seguinte na página 27: “Os próprios homens do campo ─ agricultores ou criadores ─ gostavam de deitar falação. Assim foi que na festa da Primeira Missa do Pe. João Batista Wanderley, no Poço das Trincheiras, um velho amigo matuto do Coronel Leopoldo, seu pai, usou da palavra, à força, num discurso rimado:

‘O cumpade Leopoldo
Que na hora da madrugada
Desce de escada abaixo,
Cumpade tome cuidado
Que eu te queimo com um facho...’

Aí, o coronel Leopoldo apelou: ‘Basta, compadre’. Mas o orador respondeu: ‘Basta não, cumpade!

Com um facho de mandacaru
Cumpade tome cuidado
Senão eu te queimo...’ “

E assim Tadeu Rocha também foi entrando no folclore regional da antiga vila do Poço, hoje cidade que leva o mesmo nome: Poço das Trincheiras. Muitas pessoas ilustres saíram desta cidade em áreas da Literatura, da política e da agropecuária. O falado coronel Leopoldo acima, já foi intendente em Santana do Ipanema.
Não sabemos como ainda são as festas de primeira missa no Poço das Trincheiras, mas é muito bom lembrar o caso acima e ficar em alerta nessas ocasiões. Quem sabe se não acontecerá à volta do FACHO DE MANDACARU.

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