SAÚDE
Clerisvaldo B.
Chagas, 2 de janeiro de 2013.
Crônica
nº 938
Novamente o céu se ornamentou para encerrar um tempo
marcado pelo homem. Sai uma lua cheia, bonitona, rodeada de nuvens em formas de
carneirinhos, numa meiguice toda especial para este final de ano. Em baixo, na
Terra, as criaturas procuram fazer à noite de festa conforme as suas
consciências. Enquanto muitos se divertem sadiamente com familiares, amigos ou
desconhecidos, outros morrem nas estradas, vítimas da embriaguez, da imprudência
e de tantos perigos das rodovias. São os momentos tristonhos e inesquecíveis na
dor dos parentes surpreendidos com más notícias. Mas, o espetáculo da vida
prossegue nas reuniões de famílias, das mais abastadas às mais humildes,
trocando o mesmo e o melhor presente que é a união feliz de todos em redor da
mesa. Os grandes festejos estão na mídia, no arregalar dos olhos dos milhões de
pessoas reunidas nas praias para toneladas de fogos de artifícios. E o gigantismo
desses acontecimentos ficam na outra ponta de lugares mais fracos no poder de
apenas alguns esporádicos foguetes no romper do ano novo.
No Sertão velho sofrido, observando o ciclo em torno
da lua, o desenho das nuvens ou o sopro dos ventos, o sertanejo procura
descobrir o que vem por trás das
cortinas novas do ano que chegou. Pela madrugada àquela esperança campesina se
agita quando o céu muda o cenário. Nuvens de chuvas ganham o espaço, atraindo
sertanejo que ainda não conseguiu dormir. Mas as nuvens enganam, enganam,
enganam até com um cheiro gostoso de terra molhada captado pelo inconsciente. A
alvorada confirma a ilusão da noite, mas a água do alto não desce e o vento
matreiro manda os capulhos cinzentos para trás das serras. Um bêbado passa na
rua puxando a perna e proclamando “viva”. As portas estão cerradas com o Sol já
esperto, escondendo os esticadores da ceia do ano que passou. Onde está o povo?
─ pergunta o poeta. Ah! O povo ainda está grudado na cama, na força do vinho,
no ronco descuidado ou no amor cauteloso da manhã. Mire apenas o voo dos urubus
chegando, ouça somente a voz do silêncio nos becos ou a chave na tramela do bar
que vai dormir.
Ano Novo, uma coisa natural que não existe, mas um
marco sabiamente deixado pelo homem, o mesmo homem que o bebe de uma vez como
os melhores drinques do aeroporto. Feliz ano novo meu amigo, Pois muita paz vão
precisar os ganhadores da mega sena. SAÚDE.
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