AS ASAS
DO BACURAU
Clerisvaldo B.
Chagas, 12 de novembro de 2014
Crônica
Nº 1.302
Sempre que escritores,
cantores, desenhistas e outros amantes das letras e das artes queriam
palestrar, o bacurau aguardava de asas abertas. Aquele bicho feio de natureza e
bonito no desenho da parede, atraíam os artistas que sempre continuavam a
espreitar os painéis e murais confeccionados por ele, o Roninho.
Às vezes no cotidiano
o visitante encontrava uma novidade implantada na atrativa coleção do homem.
Quando não estava marcante na parede, o artista plástico Roninho, dono do bar,
fazia questão de trazer sua mais nova obra nas páginas de um caderno de arame
ou numa folha de papel sem caráter nenhum.
Ali no balcão ficavam
as “marvadas” feitas com capricho, pelo próprio dono que as denominava de
acordo com a safadeza em voga. Lá de dentro do pequeno estabelecimento, saltava
uma geladinha para quem refugava os vidros das presepadas de Roninho.
Fora os artistas que
faziam do Bacurau o ponto certo da nova boemia santanense, ainda chegava uma
clientela pesada, facilmente dominada pelo dono que conhecia os indivíduos um a
um. De vez quando surgia um cabra de outro bairro para fazer a confraternização
ali, bem vizinho ao Corpo de Bombeiros e Escola Estadual Professora Helena
Braga das Chagas.
Ou dentro do pequeno
espaço ou fora contemplando o serrote Pintado da reserva particular de
caatinga, Tocaias, o cliente ronista apreciava a florada amarela da craibeiras do
Helena.
Um belo dia, Ah, um
belo dia, inventaram uma eleição em Santana e sequestraram o dono do bar para
cabo eleitoral. As portas do Bacurau foram cerradas, os artistas protestaram,
mas Roninho continuava de queixo duro, empinando moto em busca de votos. Passada
a fase macabra, Roninho ganhou uma colocação importante do seu vereador eleito
e abandonou de vez a sua antiga clientela do Bairro São José.
O Bacurau que
denominava o bar ficou triste na parede externa e, para os antigos clientes, o
bicho da noite nunca mais abriu as asas.
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