ESPINHOS
BENDITOS
Clerisvaldo B.
Chagas, 23 de novembro de 2014.
Crônica Nº 1.309
“No verão os campos
dos nossos sertões, por natureza áridos, tornam-se nus e causticantes. O solo
pedregoso, fica exposto à inclemência dos raios solares, que ali raramente
sofrem interferência, deveras providencial, de nuvens que passeiam no
firmamento atenuando os rigores caloríficos da estiagem.
Aqui e ali se alteiam
paradoxalmente, no espaço cinzento da paisagem, as verdes copas de juazeiros e
quixabeiras, que, como uma bênção de Deus, dão com prodigalidade, sombra,
flores e frutos, num verdadeiro desafio ao sol intenso e constante, que cresta
os outros vegetais, notadamente arbustos e gramíneas.
As aves e os pequenos
animais, salvam-se com frequência, não apenas da insolação, mas também da
fraqueza extrema e da morte por inanição, graças à presença dessa árvores. Elas
resistem milagrosamente ao martírio da seca, parece que em favor dos gados mirins,
que por sua vez dão leite e carne aos também sofridos donos ou proprietários.
Faz gosto vermos
esses vegetais frondosos, que embora espinhentos, são um refrigério na vida
agoniada da miunça leiteira. É que, como as abelhas bravias que defendem no
tronco oco das árvores antigas o mel de sua produção, os espinhos desses
vegetais impedem que a mão predatória do homem desfaça a fonte da salvação que
deles brota, durante a seca em prol da criação pequena, composta de ovinos e
caprinos.
No campo sensório de
todos nós, há também aridez e desertos.
E há igualmente (graças de Deus), juazeiros e quixabeiras da salvação,
verdadeiros oásis que são uma afirmação inequívoca da presença de Deus na Natureza.
Aqui, a aridez
desértica é representada pela indiferença dos que veem, mas não sentem o
sofrimento alheio, ao passo que a alma humana movida pela compaixão e pelo atendimento,
configura o refrigério das árvores que abrigam os pequenos animais e as aves
que as procuram.
É a força suprema de
Deus, expressa na Natureza aos nossos olhos”.
(MONTEIRO, Raul Pereira.
Espinhos na estrada. Campina Grande,
Caravela, 1999.)
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