NOS
TEMPOS DOS ARMAZÉNS
Clerisvaldo B.
Chagas, 3 de janeiro de 2018
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica
18?/
Vendo um carro de
boi, no trajeto Palmeira dos Índios – Santana do Ipanema vem à lembrança dos
tempos em que o Sertão fervilhava desse tipo de transporte. Eram eles os
distribuidores de mercadorias campo/cidade e vice-versa. Na cidade de Santana,
o ponto dos carreiros era o Largo do Juá, no leito seco do rio Ipanema. Ali se
aglomeravam centenas de carros de boi que ficavam aguardando as compras das
feiras dos sábados e dos armazéns. Os bois chegavam logo cedo e eram alimentados pela palma forrageira trazida nos próprios carros. Os carreiros andavam pela feira com o currião, o facão e, na maioria das vezes, com chapéu de couro.
Muitas mercadorias
eram compradas em armazéns de secos e molhados. Lembro-me do armazém do senhor
Marinho Rodrigues, talvez o mais sortido de todos que vendia desde a ximbra de
menino brincar até o arame farpado, passando pelo charque, bacalhau, querosene,
munição, bolachas, sal, açúcar e tantas outras coisas que fica até difícil
enumerar. Seu Marinho negociava no chamado “prédio do meio da rua”, tendo
defronte a Casa Ideal, sapataria de luxo do senhor Marinheiro. No balcão, Seu
Marinho contava com a esposa Dona Prazerinha e o cunhado Reguinho, ele mesmo e
mais alguns empregados. Reguinho também possuía a habilidade de trançar
palhinhas em cadeira, moda da época.
Seu Marinho havia
vindo da zona rural, devido a uma visita de cangaceiros à sua casa. Na ocasião
houve fuga e tentativa, tensão, saque e desentendimento entre os cangaceiros
Craúna e Cajueiro até a chegada do chefe, Lampião. Dessa família saiu o
primeiro médico filho do município, Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo também
pioneiro em clinicar na cidade. Clodolfo hoje tem seu nome reconhecido no
Hospital de Santana do Ipanema. O progresso foi aos poucos entregando os
serviços do carro de boi ao caminhão. A partir da gestão do prefeito Ulisses
Silva que substituiu o calçamento bruto da cidade por paralelepípedos, carro de
boi foi proibido de entrar na urbe. Por outro lado os armazéns foram
substituídos por mercearias e, posteriormente, mercadões e outros palavreados.
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