OS
PROFETAS DAS CHUVAS
Clerisvaldo B.
Chagas, 18 de janeiro de 2018
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.826
Meu pai dizia que
“muita gente vê, mas não enxerga”. E para quem pensa que ambas as palavras
querem dizer a mesma coisa, está completamente enganada. Em todos os sertões
nordestinos sempre existiu e existem pessoas experientes que vivem da
agropecuária. São pessoas especiais que aprenderam com os antepassados ou por
conta própria a leitura do tempo com animais, plantas e os sinais dos céus. Mas
creio que esses observadores também estão distribuídos pelo Agreste, Zonas da
Mata nordestina e mesmo na zona rural do Brasil inteiro. O Ceará foi o primeiro
a valorizá-los, convocando-os anualmente em paralelo com a ciência para ouvi-los,
comparar e planejar ações para a estação chuvosa. Ali essas pessoas foram
apelidadas, “profetas das chuvas”.
Não sabemos se o
termo “profeta das chuvas” é um elogio ou uma ironia, mas sempre tivemos por
aqui no Sertão alagoano, pessoas formadas nos presságios. Muitas frases que
vieram desses verdadeiros doutores da Natura persistem fortemente no semiárido.
O próprio Gonzaga dizia: “Mandacaru quando fulora na seca...”. Em nossa região:
“Trovoada de janeiro tarda mais não falta”; “quando Ipanema bota cheia, leva
um”; “o ano será bom se chover no dia de São José”; “se correr água no Ipanema
no início do ano, o inverno será bom”; “quando o joão-de-barro fizer o sua casa
com a entrada para o nascente, não haverá inverno”; “a migração de formigas dos
aceiros para os lugares mais altos, indica chuvas”; “e se a rãzinha rapa-rapa,
rapar no verão, chegarão às águas”; “se a rasga-mortalha passar costurando, é
doença, mas se passar costurando e rasgando, morte na família”; “se um cão uiva
a noite inteira, é morte, geralmente trágica”.
Dificilmente essas
previsões deixam de acontecer, não podendo assim ser chamadas de superstições
pelos que moram longe dessas terras, nas capitais e que não conhecem os
mistérios, nem a inteligência dada por Deus aos seus filhos mais rudes dos
sertões. Tenho minha própria experiência através da Zoomancia, técnica criada e
usada por mim mesmo, como posso, então, duvidar dos “profetas das chuvas”?
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