terça-feira, 3 de março de 2020

SANTANA, CARNAVAL E PÃO DE LÓ


SANTANA, CARNAVAL E PÃO DE LÓ
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.267
Casarão do padre Bulhões, poucos dias antes da demolição
(Foto: B. Chagas/Livro 230)

Nem é por ser uma recordação, pois sequer vivenciamos a época, mas registros históricos. Os blocos que saíam nos Carnavais santanenses, em geral, contavam antecipadamente com seus pontos de apoio. Percorriam as ruas e paravam defronte as casas de políticos e outros influentes da cidade. Em dois lugares sempre encontravam guarida e convite para entrada. Um deles era o casarão do riquíssimo coronel Manoel Rodrigues da Rocha, situado em pleno centro comercial. Subiam os degraus de madeira até o primeiro andar, dançavam, bebiam e comiam no salão de luxo, para deleite do coronel. O abastado fazendeiro, industrial, comerciante, e coronel da Guarda Nacional, tinha o maior prazer em receber qualquer um dos blocos que almejasse subir sua escadaria.
O outro ponto marcante era também o térreo casarão do padre Bulhões, localizado à margem direita da foz do riacho Camoxinga. Bem recebidos pelo sacerdote, esses blocos carnavalescos terminavam comendo como tira-gosto, o pão de ló fabricado com bastante esmero pelas irmãs de Bulhões. O padre, considerado muito austero, tinha um coração de ouro. Não recusava bloco carnavalesco e nem viajante para com ele almoçar. Estamos falando de uma época em que Santana nem era cidade ainda. A ligação entre o Centro e o bairro com o mesmo nome do riacho, ainda era ponte de madeira e, de vez em quando levada pelas cheias perigosas. Os Carnavais dos anos vinte e trinta, não teriam grande diferença da Folia de vila.
O Carnaval constava de blocos, bandos de caretas e um ou outro folião solitário com resumida fantasia. Havia blocos femininos muito bem organizados. Como sinal de prestígio, os políticos também preparavam a comilança em casa para a visita dos blocos. Os bandos de caretas não entravam na casa de ninguém e raramente acompanhavam um bloco. E se acompanhavam era por um tempo mínimo. Em alguns lugares do Nordeste, os mascarados caretas também são chamados de bobos ou papa-angu. Para impor medo e respeito, cada um conduz um relho de couro com ponteira na extremidade, estalando-o vez em quando e fazendo menção de correr atrás de meninos e adolescentes.
Era mais ou menos assim os antigos Carnavais de Santana do Ipanema e de toda a região sertaneja.




  


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