SANTANA,
CARNAVAL E PÃO DE LÓ
Clerisvaldo
B. Chagas, 4 de fevereiro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Nem é por ser uma
recordação, pois sequer vivenciamos a época, mas registros históricos. Os
blocos que saíam nos Carnavais santanenses, em geral, contavam antecipadamente
com seus pontos de apoio. Percorriam as ruas e paravam defronte as casas de
políticos e outros influentes da cidade. Em dois lugares sempre encontravam
guarida e convite para entrada. Um deles era o casarão do riquíssimo coronel
Manoel Rodrigues da Rocha, situado em pleno centro comercial. Subiam os degraus
de madeira até o primeiro andar, dançavam, bebiam e comiam no salão de luxo,
para deleite do coronel. O abastado fazendeiro, industrial, comerciante, e
coronel da Guarda Nacional, tinha o maior prazer em receber qualquer um dos
blocos que almejasse subir sua escadaria.
O outro ponto marcante
era também o térreo casarão do padre Bulhões, localizado à margem direita da
foz do riacho Camoxinga. Bem recebidos pelo sacerdote, esses blocos
carnavalescos terminavam comendo como tira-gosto, o pão de ló fabricado com
bastante esmero pelas irmãs de Bulhões. O padre, considerado muito austero,
tinha um coração de ouro. Não recusava bloco carnavalesco e nem viajante para
com ele almoçar. Estamos falando de uma época em que Santana nem era cidade
ainda. A ligação entre o Centro e o bairro com o mesmo nome do riacho, ainda
era ponte de madeira e, de vez em quando levada pelas cheias perigosas. Os
Carnavais dos anos vinte e trinta, não teriam grande diferença da Folia de
vila.
O Carnaval constava de
blocos, bandos de caretas e um ou outro folião solitário com resumida fantasia.
Havia blocos femininos muito bem organizados. Como sinal de prestígio, os
políticos também preparavam a comilança em casa para a visita dos blocos. Os
bandos de caretas não entravam na casa de ninguém e raramente acompanhavam um
bloco. E se acompanhavam era por um tempo mínimo. Em alguns lugares do
Nordeste, os mascarados caretas também são chamados de bobos ou papa-angu. Para
impor medo e respeito, cada um conduz um relho de couro com ponteira na
extremidade, estalando-o vez em quando e fazendo menção de correr atrás de
meninos e adolescentes.
Era mais ou menos assim
os antigos Carnavais de Santana do Ipanema e de toda a região sertaneja.
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