TACANDO
FUMO NOS CABRAS
Clerisvaldo
B. Chagas, 12 de março de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Estive na casa do
senhor Luís Soares Filho em manhã de domingo de 2 de abril de 2006, localidade
Aterro. Fiz uma entrevista com o popular Luís Fumeiro, então, com 83 anos de
idade. O homem que era feirante, negociava com fumo de rolo vindo de Arapiraca.
Era comum encontrá-lo aos sábados na Feira do Fumo, primeiro entre o “prédio do
meio da rua” e o “sobrado do meio da rua”, depois, defronte ao Mercado Público
e finalmente por trás da Rua Ministro José Américo. A entrevista completa está
no livro inédito: “O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do
Ipanema”. O entrevistado parecia ansioso e fez o seu desabafo, ainda com uma
lucidez impressionante.
Foi ele quem fundou a
Avenida Nossa Senhora de Fátima (via da Câmara de Vereadores), com cinco casas.
Foi ele também quem fundou o time de futebol Ipiranga, que se tornou o
principal adversário do Ipanema, por longos anos. Luís dá detalhes de tudo.
Ainda foi ele quem fundou a rua do antigo Aterro, onde morava na época da entrevista;
rua que faz parte da BR-316 e desafoga o trânsito de Santana do Ipanema. Da
última metade do século XX, o bloco carnavalesco “Os cangaceiros” foi um dos
mais famosos de nossa folia. Também foi Luís Soares o seu fundador que gastava
muito dinheiro em carnavais e pastoris. O time do Ipiranga sempre foi
sustentado por ele e não pedia ajuda a ninguém. Todos os anos o fumeiro fazia
uma casa para vender e aplicar a verba no Ipiranga.
Pessoa pacata e
empreendedora, morava com a mãe – senhora
de idade avançada – na rua onde atualmente funciona a popular empresa
ROBRAC. Quase defronte. Vez em quando eu lhe fazia uma visita em sua casa para
ouvir suas ideias. Outras vezes as visitas eram feitas à sua própria banca de
feireiro, onde o encontrava animado, mas sempre com alguma sombra de preocupação
nos gestos. A feira específica foi migrando em diversas gestões municipais, mas
nunca neguei a minha presença à banca do fundador e dono do Ipiranga. Luís faz
parte muito forte da história do nosso município.
Sempre que eu chegava à
sua banca, a saudação e a resposta eram quase sempre as mesmas: “Diga aí, amigo,
o que estar fazendo?”.
E Luís, entre a ironia
e a tristeza: “Tacando fumo nos cabras”.
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