FOGUETES
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de junho de 2012.
Crônica Nº 807
A
mulher me
fez parar bem defronte ao museu e perguntou-me por que estava havendo tanto
foguete na cidade. Aspecto humilde, mas demonstrando bastante vontade de
conversar, quase não me deixava responder nada. “Será pelo São Pedro?” − tornava a perguntar. Eu falei calmamente
que não sabia o motivo do tal foguetório. “Mas
o senhor não é professor? Não é escritor? Insistia a mulher. Sim, madama,
voltei a responder, porém, não sou professor para investigar o porquê dos
fogos. E escritor é para escrever, não para perscrutar estouros. “Pois figue sabendo professor, que isso não é
coisa de santo, não. É bem safadeza de político. Não tá no tempo? Eita povo
triste, meu Deus! Eu mesmo não dou meu voto esse ano a fio da peste nenhum.
Pode soltar o tanto de foguete que quiser! O senhor não é candidato não?”
Não senhora. E me desculpe que estou partindo. A mulher deixava explícito que
estava precisando urgentemente falar mal de alguém. Seus olhos dançavam
nervosos e pareciam querer espiar os meus blindados pensamentos. Senti a
pregada no ar. “Estou precisando comprar
um botijão de gás e pagar as minhas contas de água e luz... Mas o senhor tem
certeza mesmo de que não é candidato?
Ouvimos juntos outros espocar
ali por perto. Realmente a tradição de soltar fogos em época junina, continuava,
se bem que em menor quantidade. Aliás, tudo que se referia aos festejos do mês
de junho havia encolhido principalmente a prática de acender fogueiras, as
bombas mais robustas, a venda de comidas típicas e os forrós arretados em cada
rua do interior. Somente o velho foguete, inventado no tempo em que Adão era
menino, continuava em voga. Santo Antônio, São João e São Pedro precisavam dos
estouros e da luminosidade daquelas varas finas com pólvora para se sentirem
mais honrados ainda pelos sertanejos devotos do Nordeste. “Mas não era tempo de confissão!”, teimava a mulher. Expliquei: Não
senhora, o padre está danado com esse negócio de confissão. A senhora vai se
confessar? Os partidos estão fazendo as convenções e não as confissões. Todos
eles usam o foguete. Mas, como à senhora não gosta de foguetes e nem vai votar
em “fio da peste nenhum”, é melhor eu nem dizer quem está pagando água, luz,
gás e telefone. A mulher, sentindo que ainda restava uma esperança, ficou “mordendo
na corda”: “Não professor, é que todo
político quer subir e a gente precisa mesmo dá uma ajudazinha a eles, não é?
Eles botam um foguete no r... e a gente toca fogo, né não! Eles sobem que só a
beleza!”. Na hora lembrei-me de Seu Lunga.
Bem, estou indo, eu disse.
“Vai para onde?” Vou ajudar as
pessoas que precisam pagar as suas contas; aproveito e vou à ponte do Urubu
comprar foguetes. “Comprar foguetes?
Comprar foguetes para que, se o senhor não é candidato e nem vai à confissão?”.
Perdi a paciência e respondi: É
certo que não vou à convenção, os foguetes são para a senhora que eu os dou de
presente. A madama vai usar cada um no mesmo lugar onde o político coloca, sabe!
Na hora de tocar fogo pode me chamar que eu venho.
Não sei dizer se a irritante
tagarela esperou à compra dos FOGUETES.
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