PERDEU-SE
NA MULTIDÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2012.
O
desfile
fazia a sua parte na avenida, animado por músicas diferentes. A multidão
ocupava diversos lugares ao longo do trecho assinalado, inclusive aplaudindo o
cortejo tão cheio de cores e criatividade. Uma diversão qualquer no centro de
São Paulo é sempre um evento bem vindo para amaciar os feixes de nervos do dia
a dia. Havia um pequeno tablado, tamanho de um ringue, defronte a um banco
particular. Logicamente não fazia parte do festejo e talvez tivesse sido ali
colocado como um pequeno palanque de vendas, ponto de apoio para discursos ou
coisas semelhantes. Algumas pessoas aproveitavam o estrado para melhor
posicionamento em visão ao desfile. Garotões riam a valer de certas figuras
inusitadas que seguiam pela avenida. Com a passagem de três rapazes sob um
veículo aberto, um dos garotões aponta para eles e ri muito, afirmando que
nunca havia visto pessoas tão feias quanto aquelas. Os rapazes que desfilavam
sentiram-se apontados e gozados. Resolveram descer, abandonar o desfile e
aplicar uns bofetes no rapaz do palanque, mais ou menos da mesma idade dos
demais.
Quando os três do cortejo
resolveram cercar e subir no palanque o garotão estava atento. Olhando para os
lados, sentindo que iria ser atacado, pegou uma afiada foicita de cortar cana,
conduzida por um trabalhador rural, de passagem, que também estava no tablado e,
disse para os invasores: “Vão encarar?”. Os
invasores, com as mãos no tablado, frearam o ímpeto e estudavam com os olhares
como acabar de subir e atacar o adversário. Do lado oposto sai outro rapaz que
não tem nada a ver com o assunto, vai para frente do garotão da foicita como a
querer distraí-lo em proveito dos três atacantes. O garotão pede imediatamente
que ele saia do campo visual. Muito confiante, ele estende o braço como a
querer demonstrar coragem, atrapalhar e desmerecer o garotão armado. Numa
fração de segundos o rapaz trapalhão tem seu braço cortado rapidamente como se
fosse apenas um tablete de manteiga. Fora avisado. A rapidez foi tanta que o
braço caiu no piso e o seu dono ainda nem tinha sentido a dor.
Os
invasores
paralisaram a marcha, os do palanque levaram a mão à boca. Na avenida,
continuava o desfile, alegre e multicor. Nos quatro cantos, o garotão largou a
foicita vermelha aos pés do mutilado, despertei dessa quimera sem virtudes e, o
nordestino correu e misturou-se. PERDEU-SE NA MULTIDÃO.
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