domingo, 17 de junho de 2012

PERDEU-SE NA MULTIDÃO


PERDEU-SE NA MULTIDÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2012.

O desfile fazia a sua parte na avenida, animado por músicas diferentes. A multidão ocupava diversos lugares ao longo do trecho assinalado, inclusive aplaudindo o cortejo tão cheio de cores e criatividade. Uma diversão qualquer no centro de São Paulo é sempre um evento bem vindo para amaciar os feixes de nervos do dia a dia. Havia um pequeno tablado, tamanho de um ringue, defronte a um banco particular. Logicamente não fazia parte do festejo e talvez tivesse sido ali colocado como um pequeno palanque de vendas, ponto de apoio para discursos ou coisas semelhantes. Algumas pessoas aproveitavam o estrado para melhor posicionamento em visão ao desfile. Garotões riam a valer de certas figuras inusitadas que seguiam pela avenida. Com a passagem de três rapazes sob um veículo aberto, um dos garotões aponta para eles e ri muito, afirmando que nunca havia visto pessoas tão feias quanto aquelas. Os rapazes que desfilavam sentiram-se apontados e gozados. Resolveram descer, abandonar o desfile e aplicar uns bofetes no rapaz do palanque, mais ou menos da mesma idade dos demais.
Quando os três do cortejo resolveram cercar e subir no palanque o garotão estava atento. Olhando para os lados, sentindo que iria ser atacado, pegou uma afiada foicita de cortar cana, conduzida por um trabalhador rural, de passagem, que também estava no tablado e, disse para os invasores: “Vão encarar?”. Os invasores, com as mãos no tablado, frearam o ímpeto e estudavam com os olhares como acabar de subir e atacar o adversário. Do lado oposto sai outro rapaz que não tem nada a ver com o assunto, vai para frente do garotão da foicita como a querer distraí-lo em proveito dos três atacantes. O garotão pede imediatamente que ele saia do campo visual. Muito confiante, ele estende o braço como a querer demonstrar coragem, atrapalhar e desmerecer o garotão armado. Numa fração de segundos o rapaz trapalhão tem seu braço cortado rapidamente como se fosse apenas um tablete de manteiga. Fora avisado. A rapidez foi tanta que o braço caiu no piso e o seu dono ainda nem tinha sentido a dor.
Os invasores paralisaram a marcha, os do palanque levaram a mão à boca. Na avenida, continuava o desfile, alegre e multicor. Nos quatro cantos, o garotão largou a foicita vermelha aos pés do mutilado, despertei dessa quimera sem virtudes e, o nordestino correu e misturou-se. PERDEU-SE NA MULTIDÃO.

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