ÓI A PESTE!
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de junho de 2012.
O
artista
plástico e caricaturista Roninho, vez em quando defendia o seu possível
candidato a vereador. Ficava na corda bamba entre a efervescência política e o
tira-gosto de bode por via aérea. Olhem! Um negócio danado! Nem os quadros de
famintos personagens da seca e cangaceiros das paredes, faziam calar os
animados amigos do Bairro São José. Foi chegando mais gente: escritores,
professores, advogados, agrônomos, palpiteiros em geral. Tudo representava
fonte de rejeição do ébrio encostado e esperança de uma reforçada moça branca.
Naquele momento perguntaram a um domingueiro quem era o seu candidato a
prefeito. O homem nem titubeou. Disse quase gritando que o seu candidato a
prefeito era aquele que estava ali na parede. E apontou a pintura mais nova de
Roninho, um cangaceiro aleijado e do olho troncho. Os outros aplaudiram
imediatamente e, o pinguço mais uma vez aprovou: “É verdade!”.
Chegou
um
momento em que todos pareciam meditativos. Houve um silêncio supimpa no bar do
Bacurau. Foi quando alguém, iniciando nova conversa, indagou se os demais
tinham lido matéria sobre a posição de Vênus, o planeta que iria se aproximar
da Terra. Um deles rebateu meio tristonho: “É
para isso que existe camisa-de-vênus”. Descambando para o outro lado da história
a roda de intelectuais, o bebão não teve dúvidas, mudou o tom. Ao invés de
repetir a enjoativa frase: ”É verdade”, adaptou-se
aos novos tempos. Engoliu a branquinha de uma só vez, temperou a goela e disse
com desconfiança, encerrando a rodada do fim da manhã: “ÓI A PESTE!”.
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