CONTRA
LAMPIÃO: ESTRATÉGIA EM ANGICOS (I)
Clerisvaldo B.
Chagas, 17 de outubro de 2014
Crônica Nº 1.283
Esse trabalho inédito,
não pode ser copiado sem seguir as normas da ABNT e nem plágio no todo ou em
parte.
Lampião não estava de
todo errado diante das observações de Corisco e Labareda no dia 26 de julho de
1938. Corisco, alegando que o coito só tinha uma boca, não quis pernoitar na
grota da fazenda Angicos. Labareda afirmara que “isso é cova de defunto, compadre”,
pelo mesmo motivo.
O que Virgolino teria
pensado? Havia postado sentinelas no morro das Imburanas, à sua direita. Pelo
dia, qualquer movimento vindo pela frente do riacho onde estava acampado, seria
visto. Daria tempo de sobra para que ele armasse uma emboscada em três frentes,
onde não sobraria ninguém. Além disso, o pedregulho do rio, abaixo do
acampamento, dificultaria o avanço do inimigo. Segundo: Em último apuro, num
ataque frontal, poderia escapar pelas duas veredas disponíveis: uma que iria ao
cimo do morro das Imburanas outra que iria para o cume do morro das Perdidas, à
sua esquerda, com saída para o interior. Durante a noite só um maluco se
arriscaria a chegar até ali. Portanto havia a possibilidade de emboscar o
inimigo e duas válvulas de escape no coito.
Cremos que Lampião
nunca imaginou um ataque de volantes pelos fundos da grota (e não houve) até
mesmo porque o movimento da polícia de Alagoas chegava constantemente aos seus
ouvidos, através de Pedro de Cândido e outros coiteiros. Por trás, também a
fazenda Logradouro lhe dava cobertura com seu dono e coiteiro Júlio Félix.
Quanto aos flancos, estavam protegidos pelos dois morros: Imburanas à direita e
Perdidas à esquerda. Estava certo ou errado? Em nossa opinião, certíssimo,
mesmo contrariando as intuições de Corisco e Labareda.
Onde Lampião errou?
Errou onde todos erram. Primeiro a traição forçada de Pedro de Cândido e de seu
irmão Durval, que indicaram as volantes o seu esconderijo. (Não estamos aqui
contando com envenenamento). Segundo, a traição da noite, jamais imaginada como
coiteira da polícia. Esses dois fatores nada seriam se não houvesse mais dois
decisivos. Terceiro: a estratégia de general do coiteiro Pedro de Cândido no
ataque. Foi ele quem, conhecendo todos os pontos, dividiu e conduziu a tropa que
atacou em quatro frentes, tapando as três válvulas de fuga dos cangaceiros. Quarto:
Lampião contava com a complacência do comandante das volantes João Bezerra,
jamais com a determinação do aspirante Chico Ferreira, praça Mané Vei, sargento
Aniceto e a volante fiel do aspirante. Portanto, esses foram os quatro fatores
que derrotaram o bando de cangaceiros na grota da fazenda Angicos, pondo fim ao
cangaço no Nordeste.
·
Amanhã, sábado (18), veremos
a continuação e final dessa crônica com a estratégia montada de Pedro de
Cândido.
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