quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O TESTE DE SEU IZAÍAS



O TESTE DE SEU IZAÍAS
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de outubro de 2014
Crônica Nº 1.287

Conheci muito bem Seu Izaías. Comerciante com armarinho e padaria no Largo da Feira, pertinho da loja de tecidos de meu pai. Alto, corpulento e arrogante o que Izaías gostava mesmo era dar esporros. Casado com a professora Hilda, muito educada ─ amiga e colega da minha mãe Helena Braga ─ morava o homem na Avenida Coronel Lucena. Muitas pequenas histórias se contavam sobre Seu Izaías, algumas publicadas outras não.
Sendo também pequeno fazendeiro, Izaías criava dois jumentos pega, enormes. Em uma parte da manhã os dois animais eram levados para a calçada da padaria, onde os marroques (pães duros, sobra do dia anterior) eram colocados num balaio de cipó e servidos aos jumentos, como ração. Era interessante o roc-roc, ruído dos dentes asininos nos pães duros.  
Izaías havia sido delegado civil. Imaginem! Mas, entre tantas historietas interessantes e hilárias do comerciante, contou-nos um rapaz que na época era balconista do armarinho-padaria que certa feita chegara por ali um caixeiro-viajante. E como todo vendedor, abriu o seu mostruário e pôs a deitar conhecimento de ciências, tentando impressionar o cliente e demais pessoas. Nesse momento o proprietário estava sem paciência. E sem paciência Izaías era um verdadeiro perigo verbal, pronto a explodir. Mas o caixeiro-viajante continua seu blá-blá-blá, direto e sem freios na máquina da verborreia. Nesse instante, para e faz a pergunta fatal ao seu cliente: “O senhor sabe Seu Izaías, que o homem é um animal elétrico?” E o comerciante, rapidamente pegou a deixa há muito aguardada: “Só acredito se você meter uma lâmpada no seu c... e ela acender!”.
Foi o bastante para que o caixeiro deixasse rapidamente o armarinho-padaria e abandonasse a praça de Santana do Ipanema.
xxx
Nessas campanhas políticas quando o candidato sobe aos palanques, não passa de caixeiro-viajante ilusionista. A demagogia provoca náuseas, vontade de vômito fácil e sensação de impunidade moral. “Vocês acreditam em mim?” indaga o safado. E o que vem à cabeça como resposta, sem dúvida alguma, é o teste imoral de Seu Izaías.



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