sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

MEU SERTÃO, MEU ANTIGO SERTÃO




MEU SERTÃO, MEU ANTIGO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de dezembro de 2014
Crônica Nº 1.328

Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Cabaça. Fruto do cabaceiro, objeto de uso obrigatório no sertão nordestino de outrora. Usava-se a cabaça como boia amarrada à cintura com cordas de caroá para os primeiros exercícios de natação em barreiros, riachos e açudes. Quando retirado o seu miolo, servia para conduzir água nas longas caminhadas, também presa à cintura com o mesmo tipo de corda. Serrada ao meio, em sentido norte e sul, dava duas cuias, objeto obrigatório para se apanhar água nas fontes citadas e encher os vasilhames. Muitas eram deixadas lá mesmo, para ser usada por qualquer pessoa, inclusive o viajante sedento. A cuia de cabaça tinha uso intenso nas farinhadas, um objeto multiuso no lar e na roça. Quando a cabaça era pequena, menor até que a mão era utilizada como depósito de pólvora para os caçadores que atiravam com espingarda vulgo “soca-tempero”, porque era carregada pela boca, batendo com a vareta o chumbo, pólvora e a bucha de corda.
O chumbo era usado pelo caçador, em saquinho do mesmo tamanho, confeccionado em tecido especial, crespo e boca estreita, chamado chumbeiro.
Cabacinha de pólvora, chumbeiro, espingarda soca-tempero, espoletas (cujo depósito já vinha na coronha da espingarda, com abertura de metal) corda velha para bucha e bisaco (espécie de bornal ou embornal), formavam o kit do caçador.
Cuia de queijo do reino. Não era facilmente encontrado o queijo do reino; o queijo que vinha do reino de Portugal, devidamente enlatado em forma de esfera ricamente colorida. Somente o ricaço podia pagar o alto preço do queijo do reino, como ainda hoje. O pobre quando comia queijo era os dos tipos “coalho”, “fogo” ou “manteiga”. O queijo de coalho não vai ao fogo, o de manteiga, sim, daí ser chamado queijo de fogo. Entretanto, a embalagem metálica decorada dava duas cuias muito usadas pelos pedintes nas feiras e esquinas das cidades, principalmente pelos cegos. Os cegos porque pareciam entender o valor da moeda jogada pelo passante, no tilintar da cuia.
Peneira. Nos sítios que gostavam de dançar samba ou pagode, enquanto todos dançavam fazendo o trupé, um cantador ou dois, improvisadores, cantavam versos acompanhados por pandeiros ou ganzás de metal. Quando a pobreza do cantador era muita, ele se valia da peneira, pequeno instrumento do tamanho de uma castanhola, feito de palha rígida com pedrinhas dentro, imitando o ganzá.
Assim era e ainda é em inúmeros lugares do meu sertão, meu sertãozinho.


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