VOLTANDO AOS
BARBEIROS
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de dezembro de 2014
Crônica Nº 1.329
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Joinha. Foto (Clerisvaldo). |
Ainda voltando aos barbeiros, fui contando
desde o início. Nésio, José, Apolônio, o filho de Apolônio e agora Joinha.
Quando criança era Nésio que com sua máquina cega, nos arrancava cabelo. Mas
com meu pai, não tinha esse negócio. Mandava que o homem passasse máquina zero
e eu não conseguia me livrar da tortura do fígaro que trabalhava no prédio do
meio da rua. Já falando grosso, fui para José Barbeiro, perto da Travessa Antônio
Tavares. Passei para o terceiro, Apolônio, iniciando no mesmo salão do José e depois
no salão do cine-alvorada, no comércio. Na sequência de morte dos três (eram senhores
madurões) passei para o filho de Apolônio, Manoel, cabra novo, mas com seus
vícios que o levou a morte. Trabalhou substituindo o pai no cine-Alvorada e, depois
foi para o antigo casarão onde nasceu o contista Breno Accioly.
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Salão Joia. Foto: (Clerisvaldo). |
Apolônio foi o que mais gostei. Alto, moreno
claro e fala mansa quase cochichada ao ouvido do cliente. Contou-me que fora
capanga num engenho da Mata e atirava de rifle muito bem. Um dia conheceu uma cabrocha
bonita e ficou assanhado. No mesmo dia, o Senhor de Engenho que gostava muito
dele, disse: “Apolônio, tudo que você quiser
fazer aqui no engenho, pode. Só não chegar perto da cabrocha fulana”. Apolônio
fez-se de desentendido e com pouco tempo deixou a Zona da Mata. Gostei do seu
nome ímpar e o trouxe para capanga do meu romance “Fazenda Lajeado”. O barbeiro
é quem conta às fofocas da cidade, mas do Manoel, era difícil arrancar algumas
palavras.
Depois da crise dos barbeiros em extinção, o
governo incentivou um curso e hoje existem vários barbeiros em Santana, cada
um, dizem, melhor do que os outros. São modernos, atualizados, cheios de
estilos. Gostei do corte do Joinha e continuo com ele. Evangélico, animado, iniciou
na Rua Pedro Brandão e atualmente trabalha na Rua do Cecéu, um mecânico muito
maior do que a rua, daí a referência.
Televisão, ar condicionado, prédio próprio,
revistas, você precisa conhecer o Joinha e o seu ambiente minúsculo Salão 100% Joia.
O governo fez um grande benefício para gerar
emprego, renda e levantar uma classe em extinção. Quando elogio o seu corte ele
diz logo: “Foi o curso, professor, não
aprende quem não quer”. Esse não pergunta: quer com aico, quer com taico,
ou quer que mui? Joinha fala bem. Não vou contar piadas de barbeiro porque com
Joinha não tem graça. Salão 100% Joia.
Espero que esse não morra tão cedo, pois,
casado há pouco, já está gordinho de prosperidade.
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