ALMOCREVE - VEREDAS E PROGRESSO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2020
Escritor Símbolo do Sertão
Alagoano
Crônica: 2.360
FOTO: DE ARTIGO DE DANIEL ANTUNES JÚNIOR/REPRODUÇÃO
Vereda é um caminho estreito na mata, primeiramente feito pelos índios, pelos animais silvestres e pelos bodes da caatinga. Cabe somente uma pessoa ou várias em fila indiana, isto é, um atrás do outro. Os de menor estudo chamam varedas, o que dá no mesmo. Os modernos chamam as veredas mais alargadas de trilha. Inicialmente o transporte de mercadorias era feito nas costas do próprio índio. Com o surgimento de burros, no Brasil, as veredas foram exploradas em lombo de muares que também alargaram esses caminhos de bode como precursores do carro de boi. O carro de boi alargou mais ainda as estradas, abrindo alas para o futuro caminhão e o automóvel. O caminhão e o trem foram a grosso modo, concorrentes entre si.
Em outras regiões, o
almocreve era chamado tropeiro, isto é, condutor de tropas de burros. Com dez,
doze, animais, o almocreve do sertão fazia intercâmbio com a Zona da Mata.
Levava cereais, carne de sol, couros, peles, queijos... E trazia rapadura, mel
de engenho, aguardente, tecidos, mel de abelha.... Não esquecer que gente
famosa também fazia esse serviço, como Virgolino Ferreira, antes de virar o
Lampião. Desse modo, o progresso brasileiro, mesmo nos sertões nordestinos, não
parava nunca por falta de transportes. O tal feijão tropeiro é referência ao
modo como o almocreve ou tropeiro preparava suas refeições nos acampamentos.
Em Santana do
Ipanema, já no final dessa atividade, quando criança conheci o senhor Cirilo,
talvez o último almocreve da região. Para as pessoas mais jovens de Santana.
Era pai do senhor José Cirilo, avô do amigo tão conhecido Erasmo do recente bar
da Rua São Pedro. O saudoso Lelé, tio do senhor Erasmo, orgulhava-se de ter
sido tropeiro com seu pai, Cirilo. Lelé decorou muita geografia física, mas aí
é outra história. Seu Cirilo morava na chamada Rua de Zé Quirino (atual prof.
Enéas) na esquina do primeiro beco que dava para o rio Ipanema. Ao chegar das
suas viagens, soltava sua burrama nas areias do rio seco.
Os almocreves são
páginas coloridas e adormecidas dos nossos sertões. Foi lembrado pelo Trio Nordestino:
“Tropeiro...
vai parti de madrugada não vê mais a sua amada,
E apressado saía
Tropeiro, é muito longe a estrada põe na frente a burrarada,
E amanhece o dia
Já bem distante o descampado, anoitece
Tropeiro não esquece o seu grande amor
Vê as estrelas no céu brilhando
E o tropeiro ficando cheio de langor
Para o rebanho já cansado de andar
E vai descansar lá no canto sozinho
Pensa na vida cheio de amargura
Essa criatura vive sem carinho”
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